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MY WAY-2012-III

SUMÁRIO: *** COSMIC MEMORY *** GNOSE VIBRATÓRIA - EM DEMANDA DO GRAAL - O LABIRINTO DA ETERNIDADE - NA SENDA DO MARAVILHOSO - ENERGIAS E SINERGIAS

Saturday, May 20, 2006

TROPISMOS 1993

ee-I> Exercícios de emergência

TROPISMOS

+ 6 PONTOS

Cabo, 20/5/1993 - 1 - Folheava eu o Livro da 1ª Classe, enquanto ouvia a cassete gravada com as instruções sobre o programa Windows. E evoquei as várias fases de analfabetismo pelas quais passa um animal que não nasce, como os gatos, ensinado. A inteligência humana, cantada por tantos poetas e outros bem intencionados, revela-se, por esta constante necessidade de novas aprendizagens, uma qualidade bem pouco invejával. Estamos sempre sem saber, ou seja, somos estruturalmente inocentes. Ou antes: parvos. Mas face a estas duas linguagens - a da língua mãe nos meus 5 anos e a do programa windows nos meus 56 - a nova linguagem vibratória mostra-se prometedora. Trata-se agora de aprender a falar com o Invisível. Chamo-lhe Deus. Ou seja: a Eternidade. Etienne Guillé - que inventou esta nova linguagem - distingue entre a velha e a nova eternidade. A velha traduzida no Cancro - a célula cancerosa é imortal - e a nova traduzida no espaço-tempo sem espaço nem tempo, só Luz. A Luz Branca que emitem os 17 canais cósmicos.
2 - A quem trabalhe com o Pêndulo, surge aqui um dado discutível mas que apetece aclarar: ao postular a existência das pirâmides - somos, afinal, uma sequência de pirâmides embrechadas umas nas outras, palavras como Deus e espírito deixam de flutuar no vago e no vazio, são mensuráveis e definidas por arestas. Há vantagem metodológica em postular as pirâmides. Aliás, teriam os egípcios gasto tanta pedra e deixado morrer tanto escravo, se a pirâmide não representasse, de facto, pura e simplesmente a Eternidade?
3 - Ao entrar no estudo da Radiestesia, a esperança de alguns na nova via vivifica-se por esta razão piramidal. É como se um deserto de nada se transformasse num espaço de vida e oxigénio respirável. À hora a que escrevo, duvido ainda se a radiestesia será tudo o que os livros de Etienne Guillé prometem, ou apenas uma farsa (mais), ou apenas uma burla (mais), ou apenas uma forma, extremamente ardilosa e subtil, de tornar monetariamente rentáveis os nossos medos e pavores. Dos quais o Medo ao Nada é com certeza o Maior. Dará a Radiestesia resposta a este Medo Maior? Para ser sincero, afigura-se-me que estou agora menos medroso do que em Abril de 1992, quando fui a correr para que o Manuel Fernandes me socorresse. Algo mudou. E não posso dizer que a mudança é só porque me sustento, neste momento, de Teína e Cafeína. Sustentam-me esses dois alcalóides, mas a verdade também é que sobre a elevação do nível vibratório proporcionada pelos alucinogénicos e alacalóides, Etienne Guillé escreveu palavras definitivas.
3 - É um facto. No estudo da Radiestesia parece às vezes que estão a gozar connosco. E abusando da nossa bolsa. De repente, dizem-nos, já não teremos acesso à arte terapêutica, ou só alguns terão(porque são eleitos dos deuses? Ou porque pagam mais pelo curso?). A Radiestesia, para mim, não me apareceu como carreira de ganhar dinheiro: surgiu-me como razão aparentemente luminosa para contrariar um crónico e antigo desespero de 59 anos, desde que me conheço. Um crónico e antigo estado depressivo. Surgiu-me como um débil raio de esperança numa vida efectivamente de horror. Odiosa vida com todas as letras. Dispensava eu, portanto, ser admoestado e metido no mesmo saco dos que toda a vida andaram à procura de poder, de ter mais ter e poder, de poder mais ter e poder. Se mais cedo tivesse ganho gosto à vida e lutado por ela, não chegaria aos 60 anos sem casa, sem carro, sem família, sem amigos, sem rumo, sem nada. E ainda tenho que ouvir o Jean Noel Kerviel admoestar os que andam procurando poder na Radiestesia? Pergunto à minha consciência se andei, ando ou andarei alguma vez à procura do poder. E se melhor não estaria se de facto me tivesse mancomunado com ele e com eles.
4 - Mas a cada nova sombra que surge, a Luz parece resistir e voltar a brilhar a Esperança. É assim a Radiestesia: uma luz que vai e volta. As pirâmides concretizam geometricamente - num espaço sem espaço e num tempo sem tempo - a vaga noção de espírito, a vaga noção de deus. O absoluto? As pirâmides serão o Absoluto traduzido em termos relativos? E o número de ouro? Mas para continuar todos os dias a vir para o campo de concentração de Cabo Ruivo, é no relativo que eu tenho de pisar. Nos medos do relativo e da catástrofe. No cheiro a tintas (chumbo) que impregna todos os sítios desta casa. Cheiro que ninguém se queixa de cheirar. E que todos dizem não cheirar. Não consigo habituar-me e sou o único que não consegue. Se aspirasse ao poder outro galo me cantaria.
5 - Arrepelo-me de raiva por não perceber este enigma, que se prolonga há demasiado tempo sem solução: serei eu que atraio certas situações ou será a patologia generalizada do contexto que as torna sistemáticas e tão frequentes? Quem obriga as pessoas, afinal, a dizer que telefonam para depois não telefonarem, ou a dizer que aparecem sem terem tido nunca a mais leve intenção de comparecer? O que leva as pessoas a prometer mundos e fundos e nem um bocado de corno darem? Porque raio há gente que cria nos outros expectativas apenas para as frustrarem? O que o Manuel Fernanades fez como o mano Zé, quando ele já estava desenganado dos médicos e precisava apenas de uma palavra de conforto, continua para mim um enigma que nenhuma página ou linha ou obra de Radiestesia consegue, até hoje, justificar. Quantos dias o mano Zé ficou suspenso de um prometido telefonema que nunca chegou? Que eu saiba e de acordo com a minha capacidade de ajuizamento, passa-se qualquer coisa de profundamente errado e que tem a ver, afinal, com a curiosa noção de impecabilidade que os adeptos do chamanismo bem pregam. Mas - de todo! - não cumprem. A impecabilidade, para estes chamanistas, é só para os outros, Os gurus - e os técnicos da Toshiba - estão para lá do bem e do mal. Neste momento, fui escolhido como alvo para o mesmo tipo de operação, por duas pessoas que se colocam vibratoriamente nos antípodas: o Manuel Fernandes usa e abusa desse alibi - promete que aparece e nem sombras; e o sr. Joaquim Bandeira, da Toshiba, dá-se ao luxo de, há três semanas, ter o mesmo tipo de comportamento, imagine-se com quê: com a merda da venda de um portátil Toshiba. Quando um vendedor nem vender sabe o que tem para vender, de facto, o defeito deve ser meu: mas eu vou ali e já volto. Já perdi o conto das vezes que fiquei esperando o sr. Joaquim Bandeira, e ele afinal não aparece, não comparece, deixa o trabalho a meio. O defeito deve ser meu e, afinal, quer o Manuel Fernandes, quer o sr. Joaquim Bandeira, - vibratoriamente nos antípodas um dos outro - é que são os impecáveis. O hábito de não cumprir, ao que me dizem, é nacional: mas o defeito é meu. Talvez porque teimo em estar aqui, talvez porque teimo em estudar radiestesia, talvez porque teimo em comprar um portátil Toshiba, desafiado por um anúncio no boletim do Sindicato dos Jornalistas. Caricato. E por ser caricato e me obrigar a fazer, no meio disto, de parvo, de estúpido, de azarento, é que me arrepelo de raiva. Como um técnico de vendas de computadores nos pode humilhar assim. Mas também, afinal, o meu protector e terapeuta me humilha assim. Ou, se possível, ainda mais. Nasci para isto - para ser humilhado por quem tem uma parcela de poder - ou afinal é tudo natuiral e eu é que ainda não me habituei aos habitos deste Mundo?
6 - Outra coisa que me faz arrancar os cabelos da cabeça é a forma como os amigos sabem ser amigos: foi o João da Cruz, foi o Matos Cruz e foi o Armando. Servem-se da gente, pedem favores à conta da amizade, mas no primeiro dos primeiros momentos em que eu esboce um gesto de ser eu a precisar de ajuda, aqui del rei, nunca mais ninguém põe a vista em cima destes amigos com carro. Porque o busílis está aí, sempre: eu preciso sempre de alguém que me dê boleia. E se há a suspeita de vir a precisar, aceleram e fogem. Nem na curva já os apanho. Portanto, cautela, muita cautela com os amigos possuidores de carro.
***

ETERNIDADE 1973

chave93-> mais 10 minutos a rever e restaurar este merge que, afinal, assinala um momento da radietesia muito significativo, visto agora, quase dez anos depois – por isso o classifico entre os inéditos favoritos (if)


32742 caracteres merge doc de files wri da série EE-I,II,III e IV com um desabafo muito à Afonso sobre a solidão de querer transmitir a boa nova vibratória e todo o mundo lhe virar o cu. São 32 mil caracteres para a entrevista testamento, muito aproveitáveis mas este merge tem 2 vantagens : é maneirinho, não muito longo, e acima de tudo tem gato como palavra-chave: falando de mim e para mim, só poderia falar de gatos, meu interlocutor válido para a eternidade
Ah, é verdade e tem datas muito precisas, numa fase que foi de desestruturação, olá se foi


GATO: INTERLOCUTOR VÁLIDO PARA A ETERNIDADE
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ee-I> Exercícios de emergência

TROPISMOS

Cabo, 20/5/1993

+ 7 PONTOS

1 - Folheava eu o Livro da 1ª Classe, enquanto ouvia a cassete gravada com as instruções sobre o programa Windows. E evoquei as várias fases de analfabetismo pelas quais passa um animal que não nasce, como os gatos, ensinado. A inteligência humana, cantada por tantos poetas e outros bem intencionados, revela-se, por esta constante necessidade de novas aprendizagens, uma qualidade bem pouco invejával. Estamos sempre sem saber, ou seja, somos estruturalmente inocentes. Ou antes: parvos.
Mas face a estas duas linguagens - a da língua mãe nos meus 5 anos e a do programa windows nos meus 56 - a nova linguagem vibratória mostra-se prometedora. Trata-se agora de aprender a falar com o Invisível. Chamo-lhe Deus. Ou seja: a Eternidade. Etienne Guillé - que inventou esta nova linguagem - distingue entre a velha e a nova eternidade. A velha traduzida no Cancro - a célula cancerosa é imortal - e a nova traduzida no espaço-tempo sem espaço nem tempo, só Luz. A Luz Branca que emitem os 17 canais cósmicos.

2 - A quem trabalhe com o Pêndulo, surge aqui um dado discutível mas que apetece aclarar: ao postular a existência das pirâmides - somos, afinal, uma sequência de pirâmides embrechadas umas nas outras, palavras como Deus e espírito deixam de flutuar no vago e no vazio, são mensuráveis e definidas por arestas. Há vantagem metodológica em postular as pirâmides. Aliás, teriam os egípcios gasto tanta pedra e deixado morrer tanto escravo, se a pirâmide não representasse, de facto, pura e simplesmente a Eternidade?

3 - Ao entrar no estudo da Radiestesia, a esperança de alguns na nova via vivifica-se por esta razão piramidal. É como se um deserto de nada se transformasse num espaço de vida e oxigénio respirável. À hora a que escrevo, duvido ainda se a radiestesia será tudo o que os livros de Etienne Guillé prometem, ou apenas uma farsa (mais), ou apenas uma burla (mais), ou apenas uma forma, extremamente ardilosa e subtil, de tornar monetariamente rentáveis os nossos medos e pavores. Dos quais o Medo ao Nada é com certeza o Maior.
Dará a Radiestesia resposta a este Medo Maior? Para ser sincero, afigura-se-me que estou agora menos medroso do que em Abril de 1992, quando fui a correr para que o Manuel Fernandes me socorresse. Algo mudou. E não posso dizer que a mudança é só porque me sustento, neste momento, de Teína e Cafeína. Sustentam-me esses dois alcalóides, mas a verdade também é que sobre a elevação do nível vibratório proporcionada pelos alucinogénicos e alcalóides, Etienne Guillé escreveu palavras definitivas.

3-a - É um facto. No estudo da Radiestesia parece às vezes que estão a gozar connosco. E abusando da nossa bolsa. De repente, dizem-nos, já não teremos acesso à arte terapêutica, ou só alguns terão (porque são eleitos dos deuses? Ou porque pagam mais pelo curso?).
A Radiestesia, para mim, não me apareceu como carreira de ganhar dinheiro: surgiu-me como razão aparentemente luminosa para contrariar um crónico e antigo desespero de 59 anos, desde que me conheço. Um crónico e antigo estado depressivo. Surgiu-me como um débil raio de esperança numa vida efectivamente de horror. Odiosa vida com todas as letras.
Dispensava eu, portanto, ser admoestado e metido no mesmo saco dos que toda a vida andaram à procura de poder, de ter mais ter e poder, de poder mais ter e poder. Se mais cedo tivesse ganho gosto à vida e lutado por ela, não chegaria aos 60 anos sem casa, sem carro, sem família, sem amigos, sem rumo, sem nada.
E ainda tenho que ouvir o Jean Noel Kerviel admoestar os que andam procurando poder na Radiestesia? Pergunto à minha consciência se andei, ando ou andarei alguma vez à procura do poder. E se melhor não estaria se de facto me tivesse mancomunado com ele e com eles.

4 - Mas a cada nova sombra que surge, a Luz parece resistir e voltar a brilhar a Esperança. É assim a Radiestesia: uma luz que vai e volta. As pirâmides concretizam geometricamente - num espaço sem espaço e num tempo sem tempo - a vaga noção de espírito, a vaga noção de deus. O absoluto? As pirâmides serão o Absoluto traduzido em termos relativos? E o número de ouro?
Mas para continuar todos os dias a vir para o campo de concentração de Cabo Ruivo, é no relativo que eu tenho de pisar. Nos medos do relativo e da catástrofe. No cheiro a tintas (chumbo) que impregna todos os sítios desta casa. Cheiro que ninguém se queixa de cheirar. E que todos dizem não cheirar. Não consigo habituar-me e sou o único que não consegue. Se aspirasse ao poder outro galo me cantaria.

5 - Arrepelo-me de raiva por não perceber este enigma, que se prolonga há demasiado tempo sem solução: serei eu que atraio certas situações ou será a patologia generalizada do contexto que as torna sistemáticas e tão frequentes? Quem obriga as pessoas, afinal, a dizer que telefonam para depois não telefonarem, ou a dizer que aparecem sem terem tido nunca a mais leve intenção de comparecer? O que leva as pessoas a prometer mundos e fundos e nem um bocado de corno darem? Porque raio há gente que cria nos outros expectativas apenas para as frustrarem?
O que o Manuel Fernanades fez como o mano Zé, quando ele já estava desenganado dos médicos e precisava apenas de uma palavra de conforto, continua para mim um enigma que nenhuma página ou linha ou obra de Radiestesia consegue, até hoje, justificar.
Quantos dias o mano Zé ficou suspenso de um prometido telefonema que nunca chegou? Que eu saiba e de acordo com a minha capacidade de ajuizamento, passa-se qualquer coisa de profundamente errado e que tem a ver, afinal, com a curiosa noção de impecabilidade que os adeptos do chamanismo bem pregam. Mas - de todo! - não cumprem.
A impecabilidade, para estes chamanistas, é só para os outros. Os gurus - e os técnicos da Toshiba - estão para lá do bem e do mal. Neste momento, fui escolhido como alvo para o mesmo tipo de operação, por duas pessoas que se colocam vibratoriamente nos antípodas: o Manuel Fernandes usa e abusa desse alibi - promete que aparece e nem sombras; e o sr. Joaquim Bandeira, da Toshiba, dá-se ao luxo de, há três semanas, ter o mesmo tipo de comportamento, imagine-se com quê: com a merda da venda de um portátil Toshiba. Quando um vendedor nem vender sabe o que tem para vender, de facto, o defeito deve ser meu: mas eu vou ali e já volto.
Já perdi o conto das vezes que fiquei esperando o sr. Joaquim Bandeira, e ele afinal não aparece, não comparece, deixa o trabalho a meio. O defeito deve ser meu e, afinal, quer o Manuel Fernandes, quer o sr. Joaquim Bandeira, - vibratoriamente nos antípodas um dos outro - é que são os impecáveis. O hábito de não cumprir, ao que me dizem, é nacional: mas o defeito é meu. Talvez porque teimo em estar aqui, talvez porque teimo em estudar radiestesia, talvez porque teimo em comprar um portátil Toshiba, desafiado por um anúncio no boletim do Sindicato dos Jornalistas. Caricato.
E por ser caricato e me obrigar a fazer, no meio disto, de parvo, de estúpido, de azarento, é que me arrepelo de raiva. Como um técnico de vendas de computadores nos pode humilhar assim. Mas também, afinal, o meu protector e terapeuta me humilha assim. Ou, se possível, ainda mais. Nasci para isto - para ser humilhado por quem tem uma parcela de poder - ou afinal é tudo natural e eu é que ainda não me habituei aos hábitos deste Mundo?

6 - Outra coisa que me faz arrancar os cabelos da cabeça é a forma como os amigos sabem ser amigos: foi o João da Cruz, foi o Matos Cruz e foi o Armando. Servem-se da gente, pedem favores à conta da amizade, mas no primeiro dos primeiros momentos em que eu esboce um gesto de ser eu a precisar de ajuda, aqui del rei, nunca mais ninguém põe a vista em cima destes amigos com carro. Porque o busílis está aí, sempre: eu preciso sempre de alguém que me dê boleia. E se há a suspeita de vir a precisar, aceleram e fogem. Nem na curva já os apanho. Portanto, cautela, muita cautela com os amigos possuidores de carro.
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4864 bytes -ee-ii> cartas a ninguém

TRABALHAR COM O PÊNDULO - EXERCÍCIOS DE EMERGÊNCIA

Se perguntasse pelo interlocutor desta carta, não saberia dizer quem é. Melhor do que escrever a mim próprio - por ausência de interlocutor válido - é escrever a ninguém, na ausência de mim próprio. É um bom sinal do estado a que esta merda chegou.
Estado (conjuntura) significativo do esgoto em que me encontro neste momento. E porque não havia de me encontrar? Se toda a vida lá estive! no esgoto, porque havia de não estar e continuar aos 60 anos? Só porque entretanto surgiu a Radiestesia, talvez não seja assim um tão grande motivo para me considerar fora do Esgoto, salvo do esgoto, a respirar o oxigénio. Vistas bem as coisas, a Radiestesia foi mais uma ampliação do Nada e uma máscara de auto-ilusão do que um facto adquirido.
Mas que significado tem a diferença entre isto e coisa nenhuma? Se a autoilusão se mantivesse, tudo bem. Só que acabou. Reentrei na tal relampejante lucidez. Até ficar encandeado. A verdade é que todo o entusiasmo é falso e toda a esperança ilusão. Como sempre soube, a lucidez é sempre depressiva e as «melhoras» terapêuticas contra a Depressão não passam de auto-ilusões que se não confessam como tal.( Não soube eu sempre como era repugnante o adjectivo «melhor», «bom»?). Autoilusões que apenas mascaram o horror: ou antes, o vazio, o tédio, o vazio do tédio, o tédio do vazio. Horror seria se houvesse dramatismo nesta vulgaridade da chateza total e não há.
Quando se cai no lúcido, a única solução é mesmo o suicídio. Não é solução mas uma forma de pôr fim (?) a uma interminável chatice. Sempre. Um desvio de alguns meses não chegou para alterar a Rota. E só a vontade de conquistar a esperança explica que tenha vivido uma fase de autoilusória e autoiludida esperança. O Pêndulo serviu de pretexto. Os buracos deste esgoto continuam iguais: por exemplo, a comunicação continua impossível. Mesmo os terapeutas de uma Nova Informação (a vibratória) fecham-se em copas e servem-se dos mesmos, eternos alibis. Andam demasiado ocupados a curar pessoas para me ouvirem ou me aconselharem.
E mudei eu do avesso! Valeu de facto a pena. Um palavrão, é tudo o que vale esta bela experiência. Estou fodido e chatiado como no primeiro momento. Quer dizer: desde que nasci. Quer dizer: antes de nascer já estava chatiado e chatiado continuo.
Só me apetece escanecar quem me passa pela frente. Só me falta arranjar a coragem para assumir as consequências. O vulcão volta a ser tão explosivo como sempre foi, neste maldito jornal, neste cabrão deste maldito jornal. Prorrogam a solução do meu caso, eternizam o impasse, fazem invariavelmente ouvidos de mercador, pelo que só me fica a eterna solução: matar e matar-me.
Aqui estou tentando, com as forças que me restam, evitar o referido desfecho. Aos 60 anos, consumo o total das minhas energias diárias a reprimir a vontade irreprimível de matar e ser morto. Nunca esta merda teve um sentido. Nunca esta merda terá um sentido. Não me admira que um dia destes o pêndulo me pare nos dedos, tal o estado infeliz em que estou redondamente a recair. Nenhuns progressos. Mas que sentido tem a palavra «progresso»? Não nos dizem os seminaristas que é tudo igual ao litro e que tudo é absolutamente relativo? Quantas vezes já ouvi repetir-se este lugar-comum? Porque o repito pela cagagésima vez?
Estou a ficar mais pílulas do que antes. Adeus, Radiestesia: foste uma bela ilusão, tal como o budismo tibetano o foi. Mas a vontade (e a covardia) de me suicidar, está cá imperecível, invulnerável. Sempre. Com eles todos muito convencidos que estão muito distraídos, como não se cansava de repetir o suicida João Carlos Passos Valente. A redução do lixo doméstico vai, curiosamente, reforçar o espaço de vazio que intensifica a depressão. À medida que vou reduzindo os livros que me afogavam, é maior o vazio que me vai rodeando. Caminho aceleradamente no Vazio. Que chatice, que imensa chatice!
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Cabo, 24 de Maio de 1993

Meu Caro Afonso Cautela

+ 16 PONTOS

1-Quem muito se preserva, acaba feito um preservativo. Quem muito se acautela, acaba em bilhete de Lotaria. Quem muito se previne, acaba em prestação da Previdência Social.
Esta história dos nós de Hartamann pode ser, como brincadeira, desejável - dada a interminável chatice da Vida - mas não me parece que tenha muito a ver com a Radiestesia, aquela, pelo menos, que postula um sentido muito preciso para as energias: de cima para baixo e não de baixo para cima, dizem eles.
Pelo menos, até ontem às seis e vinte, é isso que a Radiestesia nos diz, quando fala de Chacras ou de yogas em geral. E é por isso que a Radiestesia é crítica em relação aos yogas, que seguem no sentido inverso: de baixo para cima. Nesse caso, e se a Radiestesia não introduzisse um eixo totalmente inverso, não estaríamos aqui a acreditar na Radiestesia como única saída. E estávamos todos a ver a Violência em estado puro que emana do Canal da SIC, especializado em Violência.
Mas é precisamente este facto - a Violência institucionalizada e assoprada através dos media - que torna a meu ver ridículas as excessivas preservações contra nós de Hartmann e outras miasmas meio ambientais. Se a violência está em toda a parte...

2 - Mas é aí - como única saída deste buraco de Ratos - que a Radiestesia parece também disposta a deixar-nos à porta de língua de fora e de boca aberta. O Jogo das Contradições é surrealista e divertido; mas convém não abusar. Por acaso não gosto muito de jogos, mas admito que haja quem goste.
A verdade é outra, meus senhores. Há uma zona da realidade - aquele que pisamos mesmo sem a ajuda de ilustres e competentes pedólogos - em que precisamos da lógica para ficar de pé: a lógica são os pés do espírito, e o ilustre Pedólogo que o diga. Mas acontece que eu vim para a Radiestesia exactamente por não ter onde cair morto e porque os pedólogos não funcionavam. Para o meu caso - de miséria total - não funcionavam. Ou levavam demasiado caro pela consulta. Ou funcionavam no antigo sistema, sob o anterior canal.
E tudo começou - se bem me lembro que assim me ensinaram - com o novo canal. Só que agora o que era ontem - Radiestesia dixit - também já não é hoje. O novo canal, a 26 de Agosto de 1983, era a Era do Aquário. Mas hoje já não é. Ou antes: é. Dizer que é um novo canal e que coincide com a Era do Aquário, afinal qual é a diferença?

3 - Mas o surrealismo - que eu sempre adorei, felizmente, e por isso é que entrei a fundo na surrealista radiestesia - aplicado a toda a hora pode tornar-se obsceno de obesidade. Não se faz amor a toda a hora nem em todos os lugares. Há recato.
Por isso a contradição sistemática, em certas circunstâncias, aparece obscena. Porque há um limite de contradição para a Radiestesia e todos nós sabemos qual é. Embora eu me preserve de dizer aqui qual é esse limite. Porque eu tenho pudor. E sei os limites da palavra. Nem todas servem, ainda que todas sirvam. Por amor de Deus!

4 - Voltando ao excesso de preservativo. Se eu não fizer outra coisa do que medir os nós de Hartmann, não faço outra coisa do que andar a mudar a cama. E de casa. E esse é um dos luxos a que alguns se podem dedicar, mas não os que ainda têm sorte de ter uma casa, de ter um quarto onde ficar, como é o meu caso. Por isso o geotelurismo assume, face aos que, como eu, estão ameaçados de ir dormir para debaixo da ponte, assume aspectos de afronta.
Que, cautela, não pode passar à conta de mais uma liberalidade surrealista da Radiestesia. Há que ter pudor pela pobreza de cada um. Pela minha em particular. O meu problema não é de casa: tenho a grande casa do Céu todo por minha conta. O meu problema é de não ter onde cair morto. Embora vontade não me falte.

5 - Compreendendo perfeitamente que, por medida de precaução, pessoas altamente sensíveis às energias, evitem levar com energias que lhes são enviadas. Compreendo que se fuja dessas emissões perniciosas, como eu por exemplo fujo dos camaradas e guardas do Gulag com mau hálito. Mas isso leva a que, por exemplo, eu não possa transmitir as mensagens críticas que tenho para transmitir aos meus mestres e gurus, sob o pretexto de que essas mensagens levam uma carga energética nociva. Agora compreendo porque a maior parte das mensagens que envio, não são lidas. Nem sei se são lidas energeticamente.

6 - Avisam-nos a toda a hora: com as energias não se brinca. Podemos estar a fazer magia negra de cada vez que rogamos uma praga a alguém. Ora aí está: é um belo aviso, esse. E eu vou ter mais cautela, quando tiver que rogar uma praga ao meu querido patrão, por ser o único e total responsável por me ter metido num campo de concentração, vai para três anos. Devo então, evangelicamente, tolerantemente, cristãmente, é ter pensamentos positivos e endereçá-los, com uma pombinha na ponta... ao meu querido patrãozinho, que Deus nosso senhor o preserve.
Pois é: à luz desta beatífica concepção da Radiestesia, somos todos irmãos, devemos amar seis vezes os nossos inimigos, devemos nutrir pensamentos positivos para o nosso carrasco e, se possível, oferecer a face direita depois de nos ter esbofeteado a esquerda, ou vice-versa.

7 - Entretanto, somos particularmente cautelosos e preservamo-nos, devemos presevar-nos das energias nocivas que não fazem outra coisa do que andar a tramar-nos. Mas quando o destino nos meteu na radiestesia, sabia perfeitamente que nos metia no meio da Guerra. Nesse caso, porque encolhemos agora o cu e não fazemos outra coisa do que medir, meticulosamente, os nós de Hartaman do nosso apartamento, da nossa quinta das palmeiras, da nossa casa de praia, da nossa casa de serra, porque é evidente que quem anda na Radiestesia tem que ter bens, tem que ser rico. E ficar familiarizado com hoteis de 5 estrelas.

8 - Tudo vai dar sempre ao dinheiro, como nos dizem frequentes vezes na Radiestesia. Ao maldito MAGA GAU GAS. Nesse caso, os pobres estão à partida excluídos. Isto para não falar dos pobres de espírito.
A Radiestesia como investimento num futuro profissional, também nem pensar. Cada seminário, começa e acaba com um grande recado contra os que andam aqui nisto para ver se são terapeutas e ganham bom dinheiro. Nem pensar: isto é uma terapia mas não é uma terapia, isto é um curso mas não dão diplomas, isto é um modo de vida mas é só para alguns.
Ao vulgar anãozinho como eu, só resta pagar os seminários e aceitar, com um sorriso nos lábios, os recados declaradamente nada gentis do Jean Noel. Afinal, isto é um processo iniciático, cada um tem o seu, nunca ninguém pode copiar ninguém e do que se trata é pagar os seminários para este jogo, que nem sequer como a roleta é aleatório, que nem sequer é de azar, mas que já se sabe vai terminar em branco. Nem sequer - nem sonhes! - vai dar uma hipótese de número premiado. Porque isso - não sei se topas - tem a ver com a impecabilidade e os chamãs de D. Juan, que sabiam de processos iniciáticos, falam exactamente da «impecabilidade». Tanto como os zen budistas, que usam o método gentil da ponteirada. Portanto, quem se abeire deste ou de outro método, já sabe: à conta da mensagem da esfinge, que manda amar seis vezes, leva seis ponteiradas a cada pergunta, indiscreta e desestabilizadora do sistema, que fizer.

9- Aliás, como se vê, não há praticamente dúvidas. Está tudo claro como água. O discurso da Radiestesia não suscita questões. Em todos os seminários, os seminaristas perguntam se há dúvidas e as pessoas - que parece estarem condicionadas por um egregor - nem tugem nem mugem. Não há mesmo dúvidas. Nesse caso, o que há? Há progresso interior, muito progresso interior, há os famosos stresses que um dia, quando estiver a fazer tijolo, o Aprendiz vai saber o que é. Como vai saber tudo o que até agora não sabe. Mas para saber - recorde-se - tudo o que não sabe, é que ele, o pobre tolo se meteu na Radiestesia.

10 - Mas um processo iniciático é mesmo isto: nunca se sabe nada do terreno que se pisa. Entretanto, quanto mais ponteiradas levar na tola, melhor. E quando estás a pisar uma cobra, meu caro Afonso Cautela, só sabes que é cobra quando a cobra já te picou e inoculou o veneno mortal.
Se tens a mania de lançar ao papel as tuas dúvidas, serás motivo de desconfiança, porque todos os terapeutas fogem das mensagens escritas como o Diabo da cruz. No entanto e logo a seguir, sem sombra de contradição, dizem: «escreve, escreve sempre, porque só assim integras o sonho que sonhaste».
Mas logo a seguir, dizem: «Escrever? Que horror! É obra do Diabo, de Satanás. Pela escrita eu posso cometer pecado e fazer - sem querer? - magia negra. Afinal, quando exorciso - pelo palavrão violento - o veneno tóxico que me avassala a alma, estou a transmitir, como um vómito venenoso, para o papel esse tóxico. E alguém, vibratoriamente sensível, vai apanhar com esse veneno se o ler.

11 - Portanto, preservai-vos porque no preservar é que está o ganho. E quando tiveres, meu caro Afonso, que desabafar as dúvidas que te vão na alma, por teres lido já trinta vezes os livros de Guillé e Noel, guarda as dúvidas ou leva-as para a casa de banho e limpa o cu com elas. Ninguém poderá dizer é que este acto surrealista não está de acordo com o surrealismo geral que o método admitiu ser. Admitiu em certo momento, porque no momento seguinte já não será isso mas outras coisa.

12 - Este discurso, por exemplo: já está à partida enquadrado numa das dez respostas feitas que existem dentro da Radiestesia: ou é mais um stress da minha esquizofrenia (e é); ou é fruto de um determinado momento, ( por sinal cósmico e que, como se viu, anda a assaltar muita gente, nomeadamente na área psiquiátrica). Ouviu-se aquele comovente testemunho de uma doutora psiquiatra e eu, que sou potencialmente um cliente da Psiquiatria, compreendo perfeitamente que, desde o dia 11 de Maio, tem sido cá um corropio de sobressaltos surrealistas que só visto.
Agora que me enquadram num momento cósmico, sinto-me mais à vontade, sinto-me mais confortável: afinal não sou só eu o maluco, até uma senhora, distinta psiquiatra, se queixa de manifestações perfeitamente apocalípticas. Mas não esqueçamos que Lupasco é rei na Radiestsia, com a sua lógica do Contraditório. E que todos os residentes do Júlio de Matos - onde eu tenho consulta de rotina todos os meses - são peritos na lógica do contraditório. A que Etienne Guillé chama análise global dos sistemas, com base no estudo de Bertalanffy.
Eu, por sinal, cheguei à lógica do contraditório pelos surrealismos. E por achar piada aos paradoxos. Portanto, aí está uma matéria na qual a Radiestesia - sinceramente e sem arrogância - nada tem a ensinar-me. Nem em matéria de merda condensada: essa é a minha especialidade, eu que, como terapeuta, sou especialista em fotocópias e em traduzir textos dos outros e a mais não devo, como terapeuta, aspirar.

13 - Mas lá que gostava de saber como energeticamente este texto vai fazer vibrar o Pêndulo do meu querido Manuel, lá isso gostava. A propósito de querido. As cartas de amor que eu escrevo, como esta, e que têm um destinatário (neste caso o destinatário sou eu) regra geral ficam pelo caminho da não leitura.
Mas - energeticamente falando - pelos vistos basta tê-las escrito para irem até ao destino. Meu deus! se eu um dia desconfio que me basta escrever e mandar ao papel todo o meu amor ou ódio a certa gente para que esse ódio vá direito ao alvo, dou em doido. A verdade, meus senhores, é que eu preciso de escrever no papel para não ficar com a merda toda cá dentro. Nesse caso e se me ponho com escrúpulos, ingorgito e tenho uma apoplexia por excesso de energia-lixo dentro de mim.

14 - Mas, afinal, com a história dos nós de Hartmann, o que nos dizem sempre é que não devemos atirar pró vizinho o que não queremos pra nós. Brigado. Mas então fica como solução sempre o Gato e só o Gato. Só o Gato tem antenas. Só o Gato tem o número de oiro inscrito no genes. Só o Gato serve de termostato e de modelo ao ser humano. Só o Gato é uma estrutura dinâmica. Todas as outras - dizem-nos - têm riscos. E vai haver quem acabe maluquinho obcecado com as correntes telúricas, querem ver? Se eu soubesse que o curso era tanto geotelurismo tinha-me ficado em casa sossegado, à espera de a tempestade passar, escusava de me ter filiado na Radiestesia.
14 - A propósito das energias que emitimos, e da inerente responsabilidade, espero que Radiestesia e os terapeutas mais experimentados assumam na totalidade essas responsabilidade: e que, mais uma vez, ela não seja só para uso da plebe.
A Radiestesia sabe perfeitamente que se permitiu abrir a caixa de Pandora. Escusa de ter complexos de culpa por isso, mas escusa também de me querer escusar aos riscos inerentes: e pode acontecer que alguém, «mexido» pela radiestesia, tenha reacções desagradáveis para o terapeuta.
Eu pergunto-me se o Terapeuta assume ou se irá preservar-se? Nesse caso, nem uma redoma de vidro o preservará totalmente. Aliás, em matéria de meio ambiente que tudo condiciona - também peço as minhas desculpas mas já dei para esse peditório. E já dei tanto que agora já não me apetece dar nem mais um tostão.
Quando os livros de Guillé falam de Ambiente, eu digo: Brigado, mas não me sirvo. Se eu tivesse que ficar acorrentado ao Ambiente não tinha ido para a Radiestesia. Foi para me desobrigar desse aprisionamento que fui. Portanto, agora, calma aí oh gente: eu vendi, dei e destruí os 5 mil volumes de ecologia e Ambiente assim como os de Geotelurismo e de Radiestesia empírica clássica, tudo virado para a Terra, a Mãe Terra, a Madrasta terra e a Puta da Terra. Durante 12 anos escrevi semanalmente todas as semanas uma crónica que por sinal se chamava «do Planeta terra». Imagine-se como eu era bonzinho nessa altura e ecologista e amigo do ambiente. Portanto, agora não digam que estão muito preocupados com o buraco do Ozono. Se não, eu digo mesmo um palavrão.

16 - Energeticamente falando, esta carta deve ser uma bomba. A propósito de metáforas e de largueza de vocábulos - uma gigajoga divertida como se sabe - fiquei particularmente sensibilizado com o rigor de uma aluna que, no seminário de ontem, me ensina a verdadeira tradição da palavra «casser».
Devo dizer que não gostei mesmo nada desta piada ordinária. Devo mesmo dizer, maternalmente, que fiquei fodido. Se «casser» significa partir mas não destruir, que raio então significava? Aliás, podia servir-me num caso destes de uma das famosas «respostas feitas» e dizer: então e os dois níveis de leitura. (Quem diz dois, diz três) Os celebérrimos níveis de leitura.
Pois é, sábia camarada: há dois níveis de leitura para a palavra «casser». E a dúvida de fundo permanece: as memórias das cassetes moleculares (nome bizarrro!) são para destruir ou para cultivar? Já sei a resposta: nem uma coisa nem outra. São para destruir e para cultivar. Não são para destruir nem para cultivar. Aliás, há um terceiro termo - há sempre um terceiro termo! - e não apenas dois antagonistas. De maneira que o melhor é comer mais este sapinho vivo, o sapinho vivo da perpétua contradição dos termos.
Porque - é evidente - há sempre um termo (e nem só um ) de significado intermédio, já que nada é assim ou assado, preto ou branco, sim ou não. O melhor em Radiestesia é o «NIM». Pois é, pois. As respostas feitas da Radiestesia é que me divertem. Até às lágrimas. Mas aqui lágrimas, meu senhores, é lágrimas de riso, Lágrimas de sangue, Lágrimas de pranto. Lágrimas de tosse. Lágrima de Cristo. Lágrimas de flor.
Já viram meus senhores quantos níveis de leitura para a palavra lágrimas? Nesse caso, camaradinha, meta a viola no saco com a sua tradução de «casser», porque eu vou continuar a traduzir destruir e cago nisso tudo.
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+ 5 PONTOS

1 - Virarem-me a cara quando eu vou falar, é uma das situações a que estou tão habituado como do próprio hábito se tratasse. Para atenuar o trauma, chamei-lhe autismo generalizado mas a grosseria e a brutalidade do gesto é igual.
Que eu saiba, e que eu me lembre, sou famoso pela minha má criação: o Rudolfo Iriarte levou anos a espalhar o boato de que eu era intratável, para que todas as redacções, quando chegasse o momento da verdade, me rejeitassem. De facto, arranjaram-me fama de mal educado mas não me lembro de ter voltado a cara a quem me dirige a palavra. Nem mesmo quando a palavra vem impregnada de mau hálito.
Mas aqui, nesta bendita redacção, é o pão nosso de cada dia. É tudo gente civilizada, mas burra que chega. Toda e qualquer má criação, porém, tem alibi: quem devia ouvir e não ouve, escuda-se atrás da falta de tempo, de ser muito importante, de o ritmo do jornal ser muito acelerado, de estar sob uma constante pressão... Tudo coisas que eu lamento. Coitado de quem vive tão stressado. E engulo mais um sapo vivo.

2 - Vamos supor algumas situações típicas, para as quais a Radiestesia tem um leque infindável de evasivas, de respostas feitas, destinadas a não responder a quaisquer dúvidas de fundo ou críticas.
Se entro, por exemplo, como acontece neste momento, em acelerado processo de desestruturação mental, a Radiestesia tem pelo menos duas respostas feitas para enquadrar essa desestruturação:
- Foi uma fase cósmica, em que se verificaram «perturbações» aos mais diversos níveis (nesse caso, se é cósmico, deixo andar e não me preocupo muito nem me responsabilizo);
- É decorrência de um stress que teria de acontecer (afinal sai-se de um stress para se entrar noutro, de modo que não estamos cá para nos sentirmos bem ou saudáveis)

3 - Se, na Radiestesia, andamos todos a fugir das energias más, desenha-se um quadro um tanto ou quanto ridículo. Cria-se um clima de constante suspeição em relação a tudo e a todos. Como as pessoas não são perfeitas, há-de haver sempre quem tenha uma palavra ou frase menos feliz.
Mas viver obcecadamente essa obsessão, pergunto-me se não raiará o patológico. E se não será afinal a negação de tudo o que a Radiestesia defende. Se a Radiestesia me torna mais sensível às energias negativas e nocivas, será que me torna também mais vulnerável?
Mas se me torna mais vulnerável, de que me servem as energias boas e fortes, se não servem para me defender das energias fracas e más? A ideia fixa das energias negativas parece-me rondar o patológico. Porque se compararmos as energias nocivas e negativas com as energias do Tecno-terror que nos envolve, todas elas são cor-de-rosa. E, no entanto, é nestas, é no meio do tecno-terror, do MAGA condensado, do mais abjecto inferno que eu estou, que alguns de nós estão, todos os dias. E se fui para a Radiestesia, foi na esperança de me poder defender deste Meio Ambiente. Parece-me patológico tanto receio com as energias nocivas.

4 - Quando está a decorrer um processo terapêutico, há uma possibilidade que se desenha relativamente aterradora. Entre outras igualmente aterradoras. E é a seguinte: tudo o que eu estou pensando, pode ser pura e simplesmente incutido pelo terapeuta. Vamos supor que eu começo com sentimentos de rancor pelo terapeuta. Nunca vou saber se houve manipulação dele sobre mim para que isso acontecesse. A Radiestesia desculpa-se dizendo que não é manipulatória: mas a única garantia é a consciência, mais ou menos conscienciosa, do terapeuta. Neste momento, todo este vendaval em que me encontro, sem saber se rejeito ou se aceito a Radiestesia, pode ser, pura e simplesmente, produzido intencionalmente pelo terapeuta.
Mas pode ser outra coisa que igualmente retira liberdade e livre arbítrio ao acontecimento: pode ser produto da fase cósmica em que estamos; pode ser sequência normal dos normais stresses que dentro da anormal normalidade destas coisas são esperáveis; pode ser...

5 - E as «respostas feitas» às nossas inquietações são muitas:
- «Há três níveis de leitura, meu caro»;
- «Esse raciocínio é demasiado linear, meu caro»;
- «A realidade energética rege-se por leis de ressonância vibratória, meu caro, que nada têm a ver com as leis de causa-e-efeito»
- «Uma coisa pode ser e não ser ao mesmo tempo, meu caro»
- «Todos as palavras têm vários sentidos, meu caro»
- «A leitura energética de um discurso, meu caro, não é a sua leitura literal.»
- Etc, etc.
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