TROPISMOS 1993
ee-I> Exercícios de emergência
TROPISMOS
+ 6 PONTOS
Cabo, 20/5/1993 - 1 - Folheava eu o Livro da 1ª Classe, enquanto ouvia a cassete gravada com as instruções sobre o programa Windows. E evoquei as várias fases de analfabetismo pelas quais passa um animal que não nasce, como os gatos, ensinado. A inteligência humana, cantada por tantos poetas e outros bem intencionados, revela-se, por esta constante necessidade de novas aprendizagens, uma qualidade bem pouco invejával. Estamos sempre sem saber, ou seja, somos estruturalmente inocentes. Ou antes: parvos. Mas face a estas duas linguagens - a da língua mãe nos meus 5 anos e a do programa windows nos meus 56 - a nova linguagem vibratória mostra-se prometedora. Trata-se agora de aprender a falar com o Invisível. Chamo-lhe Deus. Ou seja: a Eternidade. Etienne Guillé - que inventou esta nova linguagem - distingue entre a velha e a nova eternidade. A velha traduzida no Cancro - a célula cancerosa é imortal - e a nova traduzida no espaço-tempo sem espaço nem tempo, só Luz. A Luz Branca que emitem os 17 canais cósmicos.
2 - A quem trabalhe com o Pêndulo, surge aqui um dado discutível mas que apetece aclarar: ao postular a existência das pirâmides - somos, afinal, uma sequência de pirâmides embrechadas umas nas outras, palavras como Deus e espírito deixam de flutuar no vago e no vazio, são mensuráveis e definidas por arestas. Há vantagem metodológica em postular as pirâmides. Aliás, teriam os egípcios gasto tanta pedra e deixado morrer tanto escravo, se a pirâmide não representasse, de facto, pura e simplesmente a Eternidade?
3 - Ao entrar no estudo da Radiestesia, a esperança de alguns na nova via vivifica-se por esta razão piramidal. É como se um deserto de nada se transformasse num espaço de vida e oxigénio respirável. À hora a que escrevo, duvido ainda se a radiestesia será tudo o que os livros de Etienne Guillé prometem, ou apenas uma farsa (mais), ou apenas uma burla (mais), ou apenas uma forma, extremamente ardilosa e subtil, de tornar monetariamente rentáveis os nossos medos e pavores. Dos quais o Medo ao Nada é com certeza o Maior. Dará a Radiestesia resposta a este Medo Maior? Para ser sincero, afigura-se-me que estou agora menos medroso do que em Abril de 1992, quando fui a correr para que o Manuel Fernandes me socorresse. Algo mudou. E não posso dizer que a mudança é só porque me sustento, neste momento, de Teína e Cafeína. Sustentam-me esses dois alcalóides, mas a verdade também é que sobre a elevação do nível vibratório proporcionada pelos alucinogénicos e alacalóides, Etienne Guillé escreveu palavras definitivas.
3 - É um facto. No estudo da Radiestesia parece às vezes que estão a gozar connosco. E abusando da nossa bolsa. De repente, dizem-nos, já não teremos acesso à arte terapêutica, ou só alguns terão(porque são eleitos dos deuses? Ou porque pagam mais pelo curso?). A Radiestesia, para mim, não me apareceu como carreira de ganhar dinheiro: surgiu-me como razão aparentemente luminosa para contrariar um crónico e antigo desespero de 59 anos, desde que me conheço. Um crónico e antigo estado depressivo. Surgiu-me como um débil raio de esperança numa vida efectivamente de horror. Odiosa vida com todas as letras. Dispensava eu, portanto, ser admoestado e metido no mesmo saco dos que toda a vida andaram à procura de poder, de ter mais ter e poder, de poder mais ter e poder. Se mais cedo tivesse ganho gosto à vida e lutado por ela, não chegaria aos 60 anos sem casa, sem carro, sem família, sem amigos, sem rumo, sem nada. E ainda tenho que ouvir o Jean Noel Kerviel admoestar os que andam procurando poder na Radiestesia? Pergunto à minha consciência se andei, ando ou andarei alguma vez à procura do poder. E se melhor não estaria se de facto me tivesse mancomunado com ele e com eles.
4 - Mas a cada nova sombra que surge, a Luz parece resistir e voltar a brilhar a Esperança. É assim a Radiestesia: uma luz que vai e volta. As pirâmides concretizam geometricamente - num espaço sem espaço e num tempo sem tempo - a vaga noção de espírito, a vaga noção de deus. O absoluto? As pirâmides serão o Absoluto traduzido em termos relativos? E o número de ouro? Mas para continuar todos os dias a vir para o campo de concentração de Cabo Ruivo, é no relativo que eu tenho de pisar. Nos medos do relativo e da catástrofe. No cheiro a tintas (chumbo) que impregna todos os sítios desta casa. Cheiro que ninguém se queixa de cheirar. E que todos dizem não cheirar. Não consigo habituar-me e sou o único que não consegue. Se aspirasse ao poder outro galo me cantaria.
5 - Arrepelo-me de raiva por não perceber este enigma, que se prolonga há demasiado tempo sem solução: serei eu que atraio certas situações ou será a patologia generalizada do contexto que as torna sistemáticas e tão frequentes? Quem obriga as pessoas, afinal, a dizer que telefonam para depois não telefonarem, ou a dizer que aparecem sem terem tido nunca a mais leve intenção de comparecer? O que leva as pessoas a prometer mundos e fundos e nem um bocado de corno darem? Porque raio há gente que cria nos outros expectativas apenas para as frustrarem? O que o Manuel Fernanades fez como o mano Zé, quando ele já estava desenganado dos médicos e precisava apenas de uma palavra de conforto, continua para mim um enigma que nenhuma página ou linha ou obra de Radiestesia consegue, até hoje, justificar. Quantos dias o mano Zé ficou suspenso de um prometido telefonema que nunca chegou? Que eu saiba e de acordo com a minha capacidade de ajuizamento, passa-se qualquer coisa de profundamente errado e que tem a ver, afinal, com a curiosa noção de impecabilidade que os adeptos do chamanismo bem pregam. Mas - de todo! - não cumprem. A impecabilidade, para estes chamanistas, é só para os outros, Os gurus - e os técnicos da Toshiba - estão para lá do bem e do mal. Neste momento, fui escolhido como alvo para o mesmo tipo de operação, por duas pessoas que se colocam vibratoriamente nos antípodas: o Manuel Fernandes usa e abusa desse alibi - promete que aparece e nem sombras; e o sr. Joaquim Bandeira, da Toshiba, dá-se ao luxo de, há três semanas, ter o mesmo tipo de comportamento, imagine-se com quê: com a merda da venda de um portátil Toshiba. Quando um vendedor nem vender sabe o que tem para vender, de facto, o defeito deve ser meu: mas eu vou ali e já volto. Já perdi o conto das vezes que fiquei esperando o sr. Joaquim Bandeira, e ele afinal não aparece, não comparece, deixa o trabalho a meio. O defeito deve ser meu e, afinal, quer o Manuel Fernandes, quer o sr. Joaquim Bandeira, - vibratoriamente nos antípodas um dos outro - é que são os impecáveis. O hábito de não cumprir, ao que me dizem, é nacional: mas o defeito é meu. Talvez porque teimo em estar aqui, talvez porque teimo em estudar radiestesia, talvez porque teimo em comprar um portátil Toshiba, desafiado por um anúncio no boletim do Sindicato dos Jornalistas. Caricato. E por ser caricato e me obrigar a fazer, no meio disto, de parvo, de estúpido, de azarento, é que me arrepelo de raiva. Como um técnico de vendas de computadores nos pode humilhar assim. Mas também, afinal, o meu protector e terapeuta me humilha assim. Ou, se possível, ainda mais. Nasci para isto - para ser humilhado por quem tem uma parcela de poder - ou afinal é tudo natuiral e eu é que ainda não me habituei aos habitos deste Mundo?
6 - Outra coisa que me faz arrancar os cabelos da cabeça é a forma como os amigos sabem ser amigos: foi o João da Cruz, foi o Matos Cruz e foi o Armando. Servem-se da gente, pedem favores à conta da amizade, mas no primeiro dos primeiros momentos em que eu esboce um gesto de ser eu a precisar de ajuda, aqui del rei, nunca mais ninguém põe a vista em cima destes amigos com carro. Porque o busílis está aí, sempre: eu preciso sempre de alguém que me dê boleia. E se há a suspeita de vir a precisar, aceleram e fogem. Nem na curva já os apanho. Portanto, cautela, muita cautela com os amigos possuidores de carro.
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TROPISMOS
+ 6 PONTOS
Cabo, 20/5/1993 - 1 - Folheava eu o Livro da 1ª Classe, enquanto ouvia a cassete gravada com as instruções sobre o programa Windows. E evoquei as várias fases de analfabetismo pelas quais passa um animal que não nasce, como os gatos, ensinado. A inteligência humana, cantada por tantos poetas e outros bem intencionados, revela-se, por esta constante necessidade de novas aprendizagens, uma qualidade bem pouco invejával. Estamos sempre sem saber, ou seja, somos estruturalmente inocentes. Ou antes: parvos. Mas face a estas duas linguagens - a da língua mãe nos meus 5 anos e a do programa windows nos meus 56 - a nova linguagem vibratória mostra-se prometedora. Trata-se agora de aprender a falar com o Invisível. Chamo-lhe Deus. Ou seja: a Eternidade. Etienne Guillé - que inventou esta nova linguagem - distingue entre a velha e a nova eternidade. A velha traduzida no Cancro - a célula cancerosa é imortal - e a nova traduzida no espaço-tempo sem espaço nem tempo, só Luz. A Luz Branca que emitem os 17 canais cósmicos.
2 - A quem trabalhe com o Pêndulo, surge aqui um dado discutível mas que apetece aclarar: ao postular a existência das pirâmides - somos, afinal, uma sequência de pirâmides embrechadas umas nas outras, palavras como Deus e espírito deixam de flutuar no vago e no vazio, são mensuráveis e definidas por arestas. Há vantagem metodológica em postular as pirâmides. Aliás, teriam os egípcios gasto tanta pedra e deixado morrer tanto escravo, se a pirâmide não representasse, de facto, pura e simplesmente a Eternidade?
3 - Ao entrar no estudo da Radiestesia, a esperança de alguns na nova via vivifica-se por esta razão piramidal. É como se um deserto de nada se transformasse num espaço de vida e oxigénio respirável. À hora a que escrevo, duvido ainda se a radiestesia será tudo o que os livros de Etienne Guillé prometem, ou apenas uma farsa (mais), ou apenas uma burla (mais), ou apenas uma forma, extremamente ardilosa e subtil, de tornar monetariamente rentáveis os nossos medos e pavores. Dos quais o Medo ao Nada é com certeza o Maior. Dará a Radiestesia resposta a este Medo Maior? Para ser sincero, afigura-se-me que estou agora menos medroso do que em Abril de 1992, quando fui a correr para que o Manuel Fernandes me socorresse. Algo mudou. E não posso dizer que a mudança é só porque me sustento, neste momento, de Teína e Cafeína. Sustentam-me esses dois alcalóides, mas a verdade também é que sobre a elevação do nível vibratório proporcionada pelos alucinogénicos e alacalóides, Etienne Guillé escreveu palavras definitivas.
3 - É um facto. No estudo da Radiestesia parece às vezes que estão a gozar connosco. E abusando da nossa bolsa. De repente, dizem-nos, já não teremos acesso à arte terapêutica, ou só alguns terão(porque são eleitos dos deuses? Ou porque pagam mais pelo curso?). A Radiestesia, para mim, não me apareceu como carreira de ganhar dinheiro: surgiu-me como razão aparentemente luminosa para contrariar um crónico e antigo desespero de 59 anos, desde que me conheço. Um crónico e antigo estado depressivo. Surgiu-me como um débil raio de esperança numa vida efectivamente de horror. Odiosa vida com todas as letras. Dispensava eu, portanto, ser admoestado e metido no mesmo saco dos que toda a vida andaram à procura de poder, de ter mais ter e poder, de poder mais ter e poder. Se mais cedo tivesse ganho gosto à vida e lutado por ela, não chegaria aos 60 anos sem casa, sem carro, sem família, sem amigos, sem rumo, sem nada. E ainda tenho que ouvir o Jean Noel Kerviel admoestar os que andam procurando poder na Radiestesia? Pergunto à minha consciência se andei, ando ou andarei alguma vez à procura do poder. E se melhor não estaria se de facto me tivesse mancomunado com ele e com eles.
4 - Mas a cada nova sombra que surge, a Luz parece resistir e voltar a brilhar a Esperança. É assim a Radiestesia: uma luz que vai e volta. As pirâmides concretizam geometricamente - num espaço sem espaço e num tempo sem tempo - a vaga noção de espírito, a vaga noção de deus. O absoluto? As pirâmides serão o Absoluto traduzido em termos relativos? E o número de ouro? Mas para continuar todos os dias a vir para o campo de concentração de Cabo Ruivo, é no relativo que eu tenho de pisar. Nos medos do relativo e da catástrofe. No cheiro a tintas (chumbo) que impregna todos os sítios desta casa. Cheiro que ninguém se queixa de cheirar. E que todos dizem não cheirar. Não consigo habituar-me e sou o único que não consegue. Se aspirasse ao poder outro galo me cantaria.
5 - Arrepelo-me de raiva por não perceber este enigma, que se prolonga há demasiado tempo sem solução: serei eu que atraio certas situações ou será a patologia generalizada do contexto que as torna sistemáticas e tão frequentes? Quem obriga as pessoas, afinal, a dizer que telefonam para depois não telefonarem, ou a dizer que aparecem sem terem tido nunca a mais leve intenção de comparecer? O que leva as pessoas a prometer mundos e fundos e nem um bocado de corno darem? Porque raio há gente que cria nos outros expectativas apenas para as frustrarem? O que o Manuel Fernanades fez como o mano Zé, quando ele já estava desenganado dos médicos e precisava apenas de uma palavra de conforto, continua para mim um enigma que nenhuma página ou linha ou obra de Radiestesia consegue, até hoje, justificar. Quantos dias o mano Zé ficou suspenso de um prometido telefonema que nunca chegou? Que eu saiba e de acordo com a minha capacidade de ajuizamento, passa-se qualquer coisa de profundamente errado e que tem a ver, afinal, com a curiosa noção de impecabilidade que os adeptos do chamanismo bem pregam. Mas - de todo! - não cumprem. A impecabilidade, para estes chamanistas, é só para os outros, Os gurus - e os técnicos da Toshiba - estão para lá do bem e do mal. Neste momento, fui escolhido como alvo para o mesmo tipo de operação, por duas pessoas que se colocam vibratoriamente nos antípodas: o Manuel Fernandes usa e abusa desse alibi - promete que aparece e nem sombras; e o sr. Joaquim Bandeira, da Toshiba, dá-se ao luxo de, há três semanas, ter o mesmo tipo de comportamento, imagine-se com quê: com a merda da venda de um portátil Toshiba. Quando um vendedor nem vender sabe o que tem para vender, de facto, o defeito deve ser meu: mas eu vou ali e já volto. Já perdi o conto das vezes que fiquei esperando o sr. Joaquim Bandeira, e ele afinal não aparece, não comparece, deixa o trabalho a meio. O defeito deve ser meu e, afinal, quer o Manuel Fernandes, quer o sr. Joaquim Bandeira, - vibratoriamente nos antípodas um dos outro - é que são os impecáveis. O hábito de não cumprir, ao que me dizem, é nacional: mas o defeito é meu. Talvez porque teimo em estar aqui, talvez porque teimo em estudar radiestesia, talvez porque teimo em comprar um portátil Toshiba, desafiado por um anúncio no boletim do Sindicato dos Jornalistas. Caricato. E por ser caricato e me obrigar a fazer, no meio disto, de parvo, de estúpido, de azarento, é que me arrepelo de raiva. Como um técnico de vendas de computadores nos pode humilhar assim. Mas também, afinal, o meu protector e terapeuta me humilha assim. Ou, se possível, ainda mais. Nasci para isto - para ser humilhado por quem tem uma parcela de poder - ou afinal é tudo natuiral e eu é que ainda não me habituei aos habitos deste Mundo?
6 - Outra coisa que me faz arrancar os cabelos da cabeça é a forma como os amigos sabem ser amigos: foi o João da Cruz, foi o Matos Cruz e foi o Armando. Servem-se da gente, pedem favores à conta da amizade, mas no primeiro dos primeiros momentos em que eu esboce um gesto de ser eu a precisar de ajuda, aqui del rei, nunca mais ninguém põe a vista em cima destes amigos com carro. Porque o busílis está aí, sempre: eu preciso sempre de alguém que me dê boleia. E se há a suspeita de vir a precisar, aceleram e fogem. Nem na curva já os apanho. Portanto, cautela, muita cautela com os amigos possuidores de carro.
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