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MY WAY-2012-III

SUMÁRIO: *** COSMIC MEMORY *** GNOSE VIBRATÓRIA - EM DEMANDA DO GRAAL - O LABIRINTO DA ETERNIDADE - NA SENDA DO MARAVILHOSO - ENERGIAS E SINERGIAS

Wednesday, March 29, 2006

NIGREDO 92



crise-0 – cuidado com estas 19 páginas, com direito a inéditos favoritos e que inéditos devem continuar pela confidencialidade – haverá uma cópia intitulada com a data - crise-0= crise-1- a crise-12

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Lisboa, 21/Abril/1992 - Pedro: Se esta mensagem te chegar às mãos, agradeço que, na primeira altura, caso estejas ou venhas a Lisboa, tentes encontrar-me pelo telefone 443 65 29 (casa), pois continuo de baixa por doença no jornal. Lembras-te de Leão Lopes, que é agora Ministro da Cultura de Cabo Verde? É possível que vá trabalhar com ele e gostaria, antes, de falar contigo. Também gostaria, se te fosse possível, que me prestasses ajuda no reatar de alguns fios (ocultos) relacionados com as datas de 1983: 21/Março, 26/Agosto e 9/ Dezembro. Que se passou? Que se passa? Que se vai passar? E que tem isso a ver com o pêndulo-veículo? Acho que toquei numa da pontas da meada cósmica mais interessantes e tu deves saber guiar-me, sem desperdício de tempo e de energia, na direcção mais correcta. É que queria ir com essa tarefa cumprida, caso o destino me esteja mesmo a empurrar para Cabo verde. Teu aquariano irmão, AC
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Lisboa, 21/Abril/1992 - Não posso dizer que tenha raciocínio lento. Só não é tão rápido como às vezes eu gostaria. Lentidão e rapidez, tudo depende do ângulo do observador. De modo que só agora, Abril de 1992, creio ter percebido o alcance profundo da mensagem de Étienne Guillé que tu, tão fraternalmente, me fizeste chegar, quando me ofereceste a fotocópia do livro «L'Alchimie de la Vie». Desculparás o atraso, mas naturalmente estava escrito - inscrito no destino - que só agora eu iria receber essa mensagem e, minimamente, sintonizar a sua importância. Outras dicas tu me deste também, a que só agora estou atribuindo o significado que na altura me escapou. Em suma, emprestei «L´Alchimie de la Vie» e não posso recuperá-lo nesta altura. O que eu tinha de documentação sobre o pêndulo, já nem sei se me atrevi a transportá-lo para a tua biblioteca, naquela minha megalomania de tentar mostrar que estava em «sintonia» com as tuas correntes vibratórias. Talvez estivesse, mas só agora dei por isso... Se puderes ajudar-me a reconstruir alguma da documentação que tão levianamente dispersei (e não conservei), fico-te grato. Porque o pêndulo - só agora - veio ter comigo e eu não sei como o receber, pois queria recebê-lo como um gentleman recebe outro gentleman. Queria, em pouco tempo, preparar-me («papelisticamente» falando), para depois entender tudo melhor («telepaticamente» falando). É mesmo o momento de te pedir ajuda e um minuto do teu tempo superocupado, quando te for possível. De facto, como posso exigir pressa, eu que levei quase dois anos a perceber o que se continha na mensagem que me transmitiste sobre pirâmides e pêndulos? Atribuo a minha obnubilação ao facto de andar «cego». Talvez de paixão. Um dos muitos, muitos defeitos de se estar apaixonado. Sem falar das tantas vezes em que se cai no ridículo e no patético. O ano 1983 diz-te alguma coisa? E as datas desse ano: 21/Março? 26/Agosto? 9/Dezembro? Se puderes guiar-me um pouquito nesta direcção, sei que terás a suficiente fraternidade para não me deixar na estrada sem sinalização. Prometo não gastar muito do teu precioso tempo. Só o que o anátema aquariano nos reservar. Disponho-me a escutar-te. Sem «brain storming» e com a maior humildade - atenção, silêncio - que me for possível, neste outro estágio da minha transmutação. Obrigado, sempre, por tudo.
Continuo de baixa por doença ao jornal, podes encontrar-me no telefone de casa - 443 65 29 - , onde estou bastante tempo, pois saio apenas algumas horas na hora do almoço.
AC

PS: Se tiver que ir para Cabo Verde, queria ir com um melhor conhecimento do pêndulo. Dizem-me, peixe com a pata fora do aquário, que o pêndulo pode ajudar muito a amar (ajudar) as pessoas. Se esta é a mensagem, sempre tive peneiras de que um dia havia de amar as pessoas, de modo mais concreto e humano. Menos egoísta. O hibridismo do meu signo puxa-me para ilusões de solidariedade e fraternidade, como sabes, embora eu pense que não tenho vocação nenhuma para S. Francisco de Assis.
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1983: Ano da Revolução Cósmica?
21/Março
26/Agosto
9/Dezembro
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Lisboa, 21/Abril/1992 - José Carlos: Só para te dar uma notícia que, sendo importante para mim, me sinto impelido a transmitir aos (+) amigos. Julgo ter encontrado, depois de um processo violentíssimo de desorientação, a ponta possível da meada, o hilo unificador para a grande Era Holística do Aquário, o método e ao mesmo tempo o instrumento de trabalho com eficácia suficiente para dar às causas perdidas - como o ecologismo - a dinâmica que as faça vencer os enviados do Inferno e o Polvo das redes. Até agora não me é possível alargar em pormenores, apenas tenho referências soltas da «grande revolução cósmica»:
- Veículo: o pêndulo
- Livros: do francês Étienne Guillé e de Jean Noel Kerviel. Se vires por aí algum dos três títulos, (edição «L'Originel) dizem-me que estão esgotados e que são malditos em França: De Guillé, « L' Énergie des Pyramides et l'Homme» e «L'Alchimie de la Vie». De Kerviel, «Les Énergies Vibratoires et L'être Humain»
- Datas: 1983, 21/Março, 26 de Agosto e 9/Dezembro
- Conceitos: teleradiestesia da escola «mentalista»
Para já, gostaria de saber se o ambiente em França é de «progrom» em relação a estes itens.
Teu velho AC
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Lisboa, 22/Abril/1992 - Carlos: Foi na tentativa de compreender os problemas da asma, teus e da Astrid, que reuni essa documentação sobre espasmofilia que te envio. Em vez de a destruir, talvez te possa ser útil. Do que se trata, então? Acho que cada um deve fazer o dossiê do seu caso, tentando conhecer-se o melhor possível nos seus problemas, tendências e sintomas. É nesta perspectiva - do «conhece-te a ti próprio» - que eu acho dever colocar a questão da autoterapia. A verdade é que cada um tem obrigação de zelar, velar por si próprio, ainda que toda a tendência, no nossa sociedade, vá no sentido contrário: e cada um entrega-se sempre nas mãos de um médico ou qualquer outro salvador. Curiosamente, foi ainda este princípio de autosuficiência o que sempre me interessou mais nas chamadas tecnologias «limpas». Não apenas por serem ecológicas, mas principalmente por primarem o princípio da autolibertação e da autoindependência. O prefixo «auto» acaba por ser mais importante do que o prefixo «eco» em uma ética ecologista, digamos assim. Não sei se estás nesta onda nem se quererás aproveitar o espaço que tens - que tens a sorte de ter - para conservar documentação que pode ser útil sempre a quem dela necessite. Dou comigo, neste momento, de cabeça louca à procura de tudo o que respeite a pêndulos, teleradiestesia, pirâmides, etc. Imagina que um inesperado (?) relâmpago me acaba de mostrar a faceta inédita desses temas que eu supunha menores e de cuja documentação fiz o favor de me espoliar, numa manifestação de burrisse em que provei bem o grau de atrofia do meu sexto sentido, a intuição. É o momento de te dizer que estou a ressuscitar da segunda maior crise que jamais atravessei. Dizem-me que irei agora viver a minha segunda infância. O Carlos Carvalho foi um dos que me ajudaram a sair do buraco mais negro onde jamais estive. [ Curiosamente, recorri à macrobiótica para ultrapassar uma crise devida a erros praticados dentro da macrobiótica, o que só prova que ainda sabemos pouco de dialéctica taoísta]. O Carlos Carvalho perguntou por ti, como te sentes. Disse-lhe que devias estar a marcar nova consulta, se é que não marcaste já. Se vieres, ficas então a saber que neste momento, em matéria de documentação e nem só, a minha Prioridade das prioridades é o pêndulo. Acho que por ele vamos poder começar a construir a tão propalada era do Aquário. Só que, no meio dos ruídos parasitas, raramente se ouve a melodia principal. A convicção a que fui compelido - por força dos factos, por força do que para mim tem a maior força que é a experiência vivida e vivenciada - diz-me que, finalmente, e depois de vários atalhos, estou finalmente a caminhar na estrada real, aquela que leva à mansão certa. É como se todos os fios se tivessem subitamente reunido num único fio, sendo este o do humilde e maravilhoso pêndulo. É como se tivesse tocado o centro de gravidade do Universo. Se estou enganado, já não era a primeira vez. Mas pode ser que não esteja: e que, dentro de algum tempo, me encontre em condições de ajudar os outros com energia e eficiência, em sinal de gratidão pelos que me ajudaram a sair desta. Será exagero falar de transmutação? Dizem-me que é mesmo e eu tenho fé que seja. Sendo a experiência mais espantosa que já vivi - sofri - é claro que me assedia a vontade de a compartilhar com os amigos. Mas para isso - e por enquanto - a distância física é um obstáculo. Pode ser, em breve, que a distância não seja obstáculo nem faça nenhuma diferença. Mas isso é a parte mais prodigiosa deste prodígio de que te falo. teleradiestesia: tudo o que encontrares sobre esta matéria, guarda e diz-me. A restante documentação que me prometeste, continua a ser-me útil e podes mandá-la ou trazê-la quando te calhar: o essencial sobre o MS-DOS, por exemplo.
É nestes momentos que me surge a ideia-força: um grupo (mesmo clandestino) trabalhando e investigando no mesmo sentido, sem dispersar energias - tempo e dinheiro - é de facto, como diziam os surrealistas, o princípio de tudo. Isolado vou avançar na minha pesquisa. Mas avançaria ao dobro da velocidade, se houvesse constituído um grupo, um núcleo, um a equipa de investigadores sintonizados. Mas, como digo, pode ser que a gente, mesmo à distância, consiga fazer essa grupo. Consta-me, mas não pude confirmar, que a teleradiestesia é considerada em França, nesta altura do campeonato, uma seita subversiva. Se se confirmar a notícia, é porque há então fortes razões para esta minha súbita euforia.
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ONDE SE FALA DA BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA

José Carlos: A tua carta toca num dos meus pontos sensíveis, quando perguntas o que tenciono fazer com o espólio versístico. Paradoxalmente (ou talvez não), o vector daquilo a que chamei «economia energética» (outra forma de falar de ecologia) passa também por aí, pela obsessão, algo ridícula, de não saber o que fazer com esse investimento tão forte, numa certa fase da minha vida, que foram os versos. Daí que tivesse perdido o pudor e queira tomar em mãos, antes do meu passamento, aquilo que é costume deixar para herdeiros e para quem cá fica. «Quem vier atrás que feche a porta» - disse-me um dia o meu irmão Zé, falando de outro assunto mas podendo o anexim aplicar-se a este. Não concordei. Sou exactamente o antagonismo dessa posição: obceca-me deixar tudo em ordem, quando me for para a grande viagem. A tua ideia de deixar o espólio ao serviço nacional de inéditos, já me passou pela cabeça, desde pelo menos há dois anos, quando, em conversa com o escritor Serafim Ferreira --curiosamente, foi com ele que organizei a antologia «Poesia Portuguesa do Pós Guerra» -- soube que existia esse serviço, sediado na Biblioteca Nacional. Há cerca de um ano, entrevistei, a propósito de um seu novo livro, o poeta João Rui de Sousa, que por sinal trabalha com o José Carlos González no mesmo departamento. Até soube o nome do senhor que dirige, mas depois esqueci. Este contacto, ao contrário do que eu supunha, não me encorajou no sentido de concretizar melhor as condições em que se pode fazer uma «doação». A questão central, melindrosa e difícil, sendo o próprio a tratar disso, é que parece estar ele a «tratar da sua glória póstuma». E naturalmente está. Mas para a moral dominante, que preza muito as falsas modéstias, isso não fica bem a ninguém. Devemos sempre fingir que não nos importamos nada com o produto do nosso Ego, que somos desinteresseiros, que não temos ilusões de fama pós-mortem. Depois, entregar o espólio num serviço de Estado tem outros quês esquisitos: «Quem julga este gajo que é?» - pode perguntar o funcionário encarregado de avaliar a papelada, à maneira de um alfarrabista que só sabe depreciar a mercadoria que compra mas que depois vai vender por bom preço. «Que raio vem este tipo encher as nossas prateleiras de manuscritos, se nem sequer temos espaço para a rendosa arca do Pessoa?» - perguntará ainda o afanoso funcionário. Sondei em casa o nível de sintonia para estas coisas e também não saí muito encorajado. A filha Ana Cristina, felizmente, está mais na onda da sociedade de consumo do que propriamente em achar interessantes(ou mesmo futuramente rendosas) as artes poéticas do pai. Não a censuro, antes pelo contrário. Que interesse pode ter para ela, 19 anos, o intérmino «diário de um esquizofrénico» que são as prosas e os versos do pai? Mas a questão é mais vasta: para lá da subjectiva ilusão de darmos grande valor ao que fizemos, como é que objectivamente - em termos da tal «economia energética de recursos humanos» - podemos saber se vale a pena queimar ou aguentar as toneladas de papel com inéditos e publicados? O desgosto não seria com certeza tão grande como o da Biblioteca de Alexandria. Dou um exemplo entre mil: em Outubro de 1984, publiquei em «A Capital» um artiguinho, «Ir mais além do mundo vibratório» - projecto para um grupo de estudos e pesquisa - , mais um dos meus monomaníacos apelos a que se fizesse em grupo um trabalho exploratório de investigação holística que só em grupo pode ser feito. Depois, esqueci, como esqueci tantos projectos em que empenhei, até ao ridículo, tempo, letras, vírgulas e papel A4. Por mil e um atalhos, no entanto, verifico agora, neste momento da minha viragem pessoal, que esse artigo tocava na muge. Não falava do Pêndulo, mas era do Pêndulo que já então falava: a ponta da meada principal por onde teremos que puxar, com cuidado, com carinho, com paixão, a Grande Meada, a Principal Meada. Mas, pelo meio, quantos acessos de pessimismo, quantos livros de radiestesia fechados com raiva, pelo que tresandavam de algum charlatanismo. Hoje, até esses livros me seriam preciosos, porque tenho - julgo ter - a perspectiva que me permitiria «seleccioná-los» e separar, neles, o trigo do joio. Aliás, não conheço outro método que este método Zen, de ir sucessivamente testanto «apports», deitando fora o que a intuição disser «não» e conservando o que a intuição disser «sim». É preciso ir tecendo a teia, a trama tântrica, mas a teia só se tece com os fios de ouro de sete quilates. Não pode haver misturas, nem batota. Estou outra vez a repercorrer os atalhos mas com a obsessão de chegar à «estrada real», porque tanto posso estar a finalizar a minha representação neste palco do Mundo, como posso ter ainda outro tanto para andar por cá. O Grande Mago disse-me que eu iria renascer. De facto, sinto-me há três semanas na segunda infância. É o que pretensiosamente não me atrevo a chamar de «transmutação». Tem muito de alquimia interior tudo isto. Se me perguntasses o que tem a Ecologia Humana e a Holística a ver com isto, diria que ela é, como é a Macrobiótica, um contributo lateral e convergente. Mas quem puxa - e com bastante veemência, diga-se - toda a carruagem, é o Pêndulo. Vem a seguir a Teleradietesia, depois o contributo dos oligoelementos (somos Terra e em Terra nos tornaremos), depois os aromas, depois as cores, depois os chacras do darma hindu, depois o yin-yang taoísta, depois os meridianos da prodigiosa Acupunctura (antiguidade confirmada: + 10 mil anos), depois as pirâmides e seu Enigma, depois as «casas malditas» e o geotelurismo ( com todo o mistério maçónico do megalitismo), depois o Feng chui chinês (sempre os chinas!), depois as 300 clínicas de Qicong para onde diariamente se dirigem 250 milhões de chineses( tratando-se das mais graves doenças através de um método que provavelmente é mais antigo ainda do que a Acupunctura e que foi apenas redescoberto há vinte anos!!!), depois, depois...O eterno cancro da nossa cultura, da nossa «civilização», a fartura nos afoga, a pletora nos asfixia. Nunca tivemos tantas tecnologias apropriadas de vida ao nosso alcance, mas é exactamente essa inflação de processos para ser feliz (livre, saudável, soft) que nos torna profundamente infelizes e abandonados. A esperança das medicinas alternativas, naturais ou ecológicas, cedo se transformou em desespero, não porque faltem hoje processos de enfrentar as doenças, mas porque esses processos são quase tantos como o número de doenças catalogadas pela medicina oficial. Entre o Vocabulário médico (que é o mais pletórico de todos os vocabulários científicos) e as dezenas de terapias alternativas de que hoje dispomos, eis que o método de «selecção natural» é mais uma vez o único refúgio do aprendiz de Holística, o universo do diverso. Por isso é que eu penso: todo o desperdício é criminoso, mas se for o desperdício de informação ordenada e orientada para um pólo criador, é duplo crime. As horas que eu ocupei a caminhar nestas andanças, podem poupar dezenas de horas a quem vier depois. E quem vier depois -- outra Perversão do nosso modelo cultural -- recomeça tudo de novo, parte da estaca Zero. Como pode haver progresso, quando o pouco que foi possível construir se destrói ab initio? Se eu estou hoje a tentar vida em Cabo Verde, não é propriamente porque me atacou a súbita vocação terceiromundista. É, evidentemente, por amor a um povo que não teve culpa nenhuma nem das secas nem do Salazar, mas na idade em que estou porque hei-de armar em militante desta causa? A determinante é outra: talvez do destino que me está reservado - e ao destino ninguém foge - mas principalmente porque tudo, neste país com o pé no acelerador, me convida a sair, a ir embora, a reformar-me ou a suicidar-me. Chega a ser frenético o convite implícito na actual vida quotidiana portuguesa: «sai daqui, vai daqui pra fora, vê se desapareces». E posso garantir que ainda não estou ouvindo «vozes», como a Joana d'Arc, nem sofro assim tanto de «mania da perseguição». Há mesmo, a pairar, um sussurro: «vai-te embora, estás a mais, dá o lugar aos jovens, a pedalada da Europa já não é pra ti, etc.». No jornal, então, é cotovelada que ferve: desde a transplantação da redacção para um edifício novo, construído de raiz junto à «chama olímpica da Petrogal» (a câmara de gás de Lisboa), até aos processos de opressão interna que hoje refinam na imprensa portuguesa em crise, apertada com o cordão umbilical do Canal da televisão, tudo convida a juventude a tomar de assalto os poucos lugares que ainda há, nomeadamente os de velhos já a cair da tripeça, como eu. Acontece que conseguiram pôr-me «knock out» e o médico deu-me baixa. De Outubro a Março, estive em casa, em banho maria, arrumando caixas e caixotes, papeis e papelinhos, pondo em dia as rotinas atrasadas, revendo pela última vez cartas de minha mãe, quem sabe se cartas tuas, talvez cartas do Miguel Serrano, do Zeca Afonso, do João da Cruz, do Júlio António, da Maria Rosa, da Maria Aldonsa (dos que eu - peixe e aquário de signo - chamo «animais do meu Aquário») enfim, numa de nostalgia quase vergonhosa, onde por exemplo os livros de escola reencontrados no alfarrabista quase me levam à furtiva lagriminha romântica, lírica e evocativa (extensível a tudo quanto é gravura naif, kitsch, preto e branco, etc). É neste quadro de exaltado amor ao Ego, que surge a tua pergunta: «que vais fazer aos versos?» Pois bem, José Carlos: dei-te notícia de algumas diligências, mas coragem de concretizar alguma acção é que não tem havido. Provavelmente, deixo o espólio rotulado com endereços dos destinatários e... «quem vier atrás que feche a porta». Outro exemplo da minha inércia: queria deixar ordens concretas e claras para que o meu corpo seja cremado, mas é difícil saber, inclusive, que voltas dar (notário?), para que isso fique claramente exarado. Faz parte daquela informação fundamental que o cidadão devia ter como tem a lista telefónica, mas vai-se a ver e parece segredo de Estado. Burocracias parece que também não faltam em actos que deviam ser simples. E que vão inclusive ao encontro dos desejos mais imperativos do Estado, como este Laranja, que não tendo a coragem de pôr os velhos à frente de um pelotão de fuzilamento, também não lhes facilita nada a vida no hiato que antecede a morte. Para quando o direito fundamental do homem a ter uma pastilha de cianeto consigo, como quem traz um crucifixo? Aliás, é o único sentido esotérico que consigo vislumbrar para esse hábito exotérico do fiozinho de ouro ao pescoço. Queres redigir comigo um Manual Prático do Candidato a Moribundo? Grande falta faz, podes crer. É também neste quadro, macabro-patético, que o destino decidiu dar-me a ilusão de uma mutação em grande escala, depois de dois meses e meio no meio da maior crise a que jamais desci. Agora que eu estou mais para fechar a porta, o Grande Mago fala-me de que iniciei minha segunda infância. Sinto-me leve como um passarinho, é um facto. Mas também já ouvi falar das euforias que precedem a agonia final. Ainda ontem encontrei o livro de Étienne Guillé,[ de que já te falei], autor onde o Grande Mago diz apoiar o seu método de ressuscitar pessoas. Já vou na página 97 a até agora o discurso parece-me igual ao de todos os cientistas, só análise, sem (por enquanto) atingir o nó holístico que torna os conhecimentos mortos, isolados, analíticos, em uma coisa viva. Mais uma vez, impõe-se o método Zen. Nesta pesquisa do pêndulo, os próprios que se dizem seus servidores têm que ser triados. Fatalidade da nossa triste cultura, ou fatalismo meu, pessoal e intransmissível? O mais forte pressentimento, neste momento, é que temos ao alcance da mão o fio condutor de uma «revolução humana» total, mas tudo se afadiga a rodear de supérfluos e ruídos parasitas o som principal da melodia. Está quase, quase a ouvir-se: mas quando não é o buldozer da televisão, é o canhão da imprensa, ou de qualquer «media» que atrasa, com a desculpa da pletora informativa, a chegada da informação fundamental. Contradição que é a perversão das perversões. Foram editados em uma jovem e pequena editora do Porto dois livros que mais fortemente enraizaram em mim essa convicção de que «temos a vida à mão de semear» mas que, mais do que nunca, forças perversas como a Unideologia se empenham em nos distrair desse «tesouro» ao nosso alcance. Já agora digo-te quem são, esses que poderei considerar os livros mais «optimistas» -- no sentido do realismo ecológico - que li: «O Livro dos Illuminati», Robert Anton Wilson e «Manual de Instruções para a Nave Espacial Terra», desse grande patriarca da ecologia que é o ressuscitado R. Buckminster Fuller. Curiosamente, a editora chama-se «Via Óptima» (e de facto tem a ver com Optimismo, conceito a que sou, como budista não encartado, profundamente relutante). Outro assunto da tua carta que me afitou a orelhinha: quando falas em comprar um «computador de texto». Penso que queres significar «processador de texto». Sobre isso, gostaria de saber qual é neste momento o teu grau de familiaridade com esse mundo, entre apavorante e fascinante, dos senhores computadores. A minha primeira conclusão, dois anos após a lidar com o bicho, é que ele é dócil e um «compincha» admirável, mas o entourage de técnicos, marcas, truques de marketing, novos modelos, novas versões de programas, impressoras assim, impressoras assado, é que o torna um instrumento de trabalho infernal. Mas quando, depois de sofrer horrivelmente com este mundo do marketing informático, consegui perceber o que era possível fazer com um processador de texto, com um programa de paginação como o «page maker», com um banco de dados, etc, e como, para quem tenha a mania de editar livros, é relativamente fácil ficar quase independente da tipografia (recorrendo a ela só para imprimir o produto final, tudo o mais podendo ser feito em cima desta minha secretária), exultei de alegria: «Viva a Autosuficiência e o sonho de fazer em casa uma editorazinha artesanal». Mas só que aí outra lição aprendi: para dominar qualquer programa -- e o tal «page maker» não é excepção -- há um consumo de tempo inevitável, um investimento que acaba por nos levar a fazer contas sobre o tempo e como utilizá-lo. Chega a ser importante, nesse contexto, o tempo de «resolução» que o computador oferece para cada operação. É o que posso considerar o único «handicap» deste modelo que possuo -- Amstrad 1640 -- , e talvez também o facto de só ter drive para disquete de 5/2 polegadas. À medida que vamos exigindo mais, apercebemo-nos da importância que tem a escolha inicial para uma compra. Todas as inovações e melhorias tecnológicas aumentam o preço, é claro, mas a questão reside em saber quais são as inovações e melhorias que de facto são importantes e as que são simples fofocas do produtor para vender aparelhos. Mas naturalmente tudo isto é para ti já matéria conhecida. Como digo, não sei se já estás dentro do mundo do soft/hardware, ou se o estás ainda a ver de fora. Um dos meus muitos handicaps, por exemplo, é não saber nada do MS-DOS e como se trabalha nesse inóspito ecrã negro. Mas a verdade é que me habituei no jornal ao Windows (com o processador de texto wright) e lá fiquei com mais esse buraco na minha instrução. Mas tenho o computador carregado com o paginador «Page Maker» e algumas horas a ler as instruções permitir-me-ão publicar, em livro, a nossa colecção de poesia. Aturar a tipografia, só para a impressão final. Até lá, tudo aqui. Em cima desta secretária. Se for para Cabo Verde, terei que deixar o computador aqui na Europa. No entanto, esse é um legado que a filha Cristina não desdenha e por isso não tenho grandes preocupações. Dá notícias. AC
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ARMADILHAS DA INFORMAÇÃO ARMADILHADA

Lisboa, 24/4/1992 - J.C.A: : «Armadilhado» é palavra-chave nesta altura do campeonato: e pode estimular mais rapidamente a pesquisa, como símbolo que funciona, do que a análise discursiva e científica. Ou seja, a dica que me deste ao telefone - citando Guillé, quando ele falou da «informação piegée», continha, para o meu momento actual, maior carga de informação do que todo o livro que estou lendo «L'Alchimie de la Vie». Não quer dizer que, em um momento seguinte, não seja o inverso. Nesse sentido, é que eu disse - sem nenhuma carga pejorativa - que este livro estava «cifrado», sinónimo de «armadilhado», sinónimo de «oculto». À primeira vista, porém, à primeira leitura, ele pode aparecer-me contraditório - e porque não - do que Guillé pesquisa e ensina: advogando ele o método sistémico, por exemplo, leva o método analítico às últimas consequências; advogando ele a prática, todo este livro se consome em uma exaustiva exposição teórica; havendo nele uma atitude implícita de crítica ao sistema, segue a par e passo todas as exigências do discurso afecto ao sistema; enfim, eu sei que uma segunda leitura será diferente, mas esta primeira - sem a motivação inicial que me espevitou a fé no método - confesso que nunca me levaria lá. Quando me deste a fotocópia do dito livro, faltava-me essa motivação, essa fé inicial, que tenho agora: e como tu me lançaste com o livro no vazio, não tive garras para me ligar ao tema. Quando o Grande Mago me desbloqueou o que em mim estava bloqueado, pressenti que a ponta da meada era essa, e, sejam quais forem os obstáculos, terei que os vencer porque vale a pena o resultado final. Sem poder não se consegue ajudar ninguém, nem a nós próprios. Ora eu estava exactamente, desse ponto de vista, no ponto zero. Ainda estou: a diferença agora é a esperança de poder vir a estar em défice menor dele (poder). Se fosse só por mim, creio que pouco me importava ficar como estava: completamente inerme, completamente inerte. Mas na perspectiva de ir para Cabo Verde, por exemplo, interessa-me ir apetrechado com um instrumento de trabalho que funcione, com que eu possa servir as pessoas. A macrobiótica, por exemplo, era uma pequena arma com que eu podia contar, mas com vários handicaps no ambiente em questão. Se for pecado querer o poder, nessa caso eu, neste momento, estou em pecado mortal: queria que o pêndulo me ajudasse a ajudar quem de mim precise. Mas com força, com eficácia, com resultados práticos que pudessem ir até ao fascínio. Queria poder fazer com os outros o que o Grande Mago fez comigo e com mais umas pessoas que eu sei. Na falta de qualquer referência mais precisa ao método, comecei devorando livros que ia triando pelo meu velho método Zen das «purgas sucessivas», metabolizando apenas, aqui e ali, o que a intuição me indicava dever metabolizar. A «intuição», por exemplo e para começar: comecei a perceber melhor o verso e o reverso desse espantoso poder; neste momento, estou «radiográfico» relativamente ao que me cerca e sofro particularmente por «ver» ainda com mais acuidade as patifarias que se escondem debaixo das patifarias garridas da sociedade de consumo. Isto é «mau», ver demais a Abjecção torna-nos mais infelizes. A lucidez aqui é «negativa». Mas foi essa lucidez repentina, como um relâmpago, - o «discernimento» diz o Michio Kushi - que me «disse», uma manhã, após mês e meio girando no fundo mais fundo de um poço sem fundo, que eu entrara em um gravíssimo défice de potássio e que estava submerso, mineral e energeticamente falando, sob uma montanha de escombros. Toda a gente me diagnosticava «desmineralização» profunda, mas ninguém me dizia que era de potássio, ninguém inclusive me aconselhava o «miraculoso chá dos vegetais doces» que agora comparo muito ao maravilhoso Boldo, nosso grande amigo comum. Ora nessa manhã, como um autómato, eu comecei a fazer o chá de vegetais doces e «vi» que finalmente começava e emergir do poço onde já batera no fundo há mês e meio. Mérito meu? Sem dúvida que não: porque nessa caso já devia ter aberto os olhos mais cedo. E a verdade é que andei sem norte - o Potássio - todo esse tempo. Mérito aí foi o Grande Mago, ou das Forças que ele canalizou em meu socorro. Por isso estou grato, Por isso quero perceber. Um senhor chamado António Luzy, no livro «radiestesia Moderna» desenvolve, em termos polémicos, contra as escolas da radiestesia «físicas», a sua posição de radiestesia Mental: e o protagonista do seu método é o Inconsciente. Tudo se passa a esse nível e em nenhum outro. Tudo o mais - radiações disto e radiações daquilo - é para ele folclore pseudo-científico. Esta entrega total, de um homem com um discurso nada místico, no Grande Rio do Inconsciente, como podes calcular deixou-me - eu diria que te deixaria a ti também - encantado e fascinado. Por essa razão e nem só, quis e quero saber mais, evidentemente, dessa corrente «mentalista» da Radiestesia. Ligada imediatamente a outra «possibilidade» entrevista que toca já o domínio do Prodigioso (no sentido também de Maravilhoso e do Fantástico): a teleradiestesia. E aí fiquei a querer saber mais sobre teleradiestesia, que apenas convém distinguir de telepatia. Logo outro aspecto se me tornou fascinante: o actuar do pêndulo sobre diagramas, mapas, fotos não sei neste momento se é verdade ou não, mas os relatos que li - especialmente nos livros tão interessantes de Greg Nielson e Joseph Polansky, aparentemente situados ao nível de uma vulgarização populista - deixam-me com uma curiosidade insaciável de ir por aí. Coincide com uma velha mania minha de coleccionar mapas, diagramas, atlas, cartas de escala 1/5.000(?), etc. É como se essa mania do coleccionismo -- e outras manias - já fosse como se pressentisse uma futura e longínqua aplicação. Como se o destino estivesse falando por antecipação (e não será assim com todas as nossas inexplicáveis manias?). A ligação que Guillé faz do pêndulo ao I Ching deixou-me igualmente hipnotizado: pela primeira vez, julgo entender melhor porque o I Ching funciona, como, porquê, a partir de que premissas. Ou seja: nunca acreditara verdadeiramente no I Ching mas neste momento acho que poderia dedicar-lhe o resto da minha vida e será uma das minhas prioridades. Aliás, o sentido do que julgo serem as minhas prioridades - as minhas obrigações para com a Ordem do Universo - parecem-me agora mais nítidas, mais intensas. Afinal, tem tudo a ver com o apuramento da intuição, com o afinar do Discernimento, que - repito - não é mérito meu, mas para o qual alguém contribuiu decisivamente. Mas ainda ligado a este fio, derivam os «novos olhos» com que estou vendo antigas coisas, livros, companhias, livros, temas, autores: os meus amados oligoelementos, afinal, entram na «alquimia vida» como protagonistas que eu já pressentia que eram. Aí, o Mar rivaliza com a terra para serem a mesma Terra. Depois, a maravilhosa Homeopatia. Depois, a Sagrada Acupunctura e o recém chegado ao Ocidente Qi-Kong. Depois, o nosso portentoso Megalitismo. Depois as imponentes pirâmides e seu eterno enigma. Depois, o Yin Yang, que Guillé diz ser um corte transversal da Espiral. Etc. Mas tudo isto estava, antes do pêndulo, em um conjunto mais ou menos eclético -- vício da cultura ocidental -- repartido por disciplinas diversas, e agora - segundo julgo - aparece-me «integrado», no sentido «sistémico» em que fala Guillé. Tudo agora se articula num todo sucessivamente mais vasto: mas o que transmite um elan de esperança, é saber (julgar saber) que, através do pêndulo, nos será dado encetar e percorrer a viagem no imenso Labirinto (Lima de Freitas), sem importar muito saber se se chega ao fim: não importa chegar, importa errar. Outra interface (e eu sempre soube, por signo, entre Peixe e Aquário - que era homem das interfaces, de unir fronteiras, de lutar pelos direitos de Minorias e da Diferença...): se pelas pirâmides chegamos, antes de mais ao Egipto, chegamos também ao erroneamente chamado «Livro dos Mortos», que irresistivelmente evoca os nosso irmãos tibetanos e o budismo iniciático. Dos Medicamentos energéticos - modernamente, depois de Hanneman, ditos homeopáticos - se jactam a medicina ayurvédica, a tibetana e a farmacopeia chinesa.
Lisboa, 24/4/1992
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COMO SAIR DO ATOLEIRO?

Lisboa, 3/5/1992 - C.F.: Vamos a ver se, com a ajuda do Grande Mago e do chá de vegetais doces - o milagre que completa o do arroz integral - consigo religar agora alguns fios da meada, inclusive aqueles fios que, por vocação, desempenham essa função religadora (yoga, macrobiótica, etc) ou religiosa. Tudo vai dar a essa big questão e tudo vem daí. A inflação, como tu fizeste notar e muito bem, ao telefone, verifica-se também e principalmente ao nível das correntes místicas que prometem o mundo do espírito contra este mundo de materialidade, promessas e fés para sair do Atoleiro, que nos são propostas a cada esquina e por uma multidão de gurus. A banalização e inflação de propostas, invalida-as a todas, reforçando um clima de total cepticismo - um dos actuais demónios da Entropia, a que se junta o Ecletismo, a Dúvida sistemática e pirrónica. Quer dizer: se chegar e quando chegar o verdadeiro Profeta com a verdadeira Boa Nova, já não damos por ele... Já nem ligamos ao discurso. Será porventura esta a Perversão das perversões, a maior de um sistema estruturalmente perverso. Atenção às vozes de sereia, que nos prometem o Céu para nos meter no Inferno. São conhecidas, desde longa data, as artes do Diabo... A Inflação em todos os domínios, desde o económico ao espiritual, é ainda uma característica da Velha Idade de Kali Yuga, a transpor-se para os primeiros alvores da Nova Idade do Aquário. Estamos na transição, em cima da ponte. Tu deste, ao ter consciência dessa Inflação de informações e desse Congestionamento de correntes, um primeiro passo em cima da ponte. Como vamos superar, ultrapassar mais essa armadilha proposta pelo sistema do gigantismo, da pletora, das supermitologias, da asfixia, enfim, da entropia? Soube, pelo Grande Mago, que já existe um antónimo de Entropia, que é Desentropia. É como o Ivan Illich ensina: a palavra vem, historicamente, à frente do conceito. Se a palavra surge, vibra a Esperança de que surja em breve o seu conteúdo. O grande mago ensina as técnicas fundamentais de Desentropia. Tudo vai dar aí - Energia/Entropia. Já te falei desse livro importantíssimo editado pela Universidade do Algarve, que se chama exactamente «Entropia» e que figura agora como um dos meus pontos de passagem obrigatória, estudo e afinco mais prioritários. A partir do centro da mandala, começa a desenhar-se o mapa para sair do Atoleiro. Com o Grande Mago encontrei a ponta da Meada, todas as importâncias se hierarquizam, livros, autores, leituras, temas, problemáticas, alimentos, contactos, eleição de amigos e inimigos... É o avanço da propedêutica, da heurística como precursores da mágica holística. Tal como a ecologia, a macrobiótica, o yoga, a acupunctura, a Homeopatia, a palavra holística começa também a vulgarizar-se, a ser minada (queimada) por dentro (mas também por fora) pelos malditos soldados e ideólogos do Mal e do Inferno (leia-se Entropia) e é uma das palavras que temos o dever de salvar, de salvaguardar. Porque na Holística reside a Área Unificada (a mandala com seu centro) para a qual o Grande Mago nos dá agora o método prático e operativo ( a vida prática, a ajuda concreta aos seres humanos que sofrem, o abraço de solidariedade contra o cancro do egoísmo e da inveja social que corroi esta podre sociedade de consumo, esta podre «democracia de sucesso», esta podre Eurocracia.) holística, ainda por cima, é uma palavra linda, que os alquimistas e astrólogos já tinham cunhado e que nem sequer tivemos que inventar. Mas para ser mais alguma coisa do que ecletismo, catálogo de ciências, empirismo, necessita de uma dinâmica e de uma força que até agora as disciplinas ditas holísticas, as técnicas de vida e de saúde aparentemente mais vocacionadas para isso, não tinham conseguido. Até porque essas técnicas, na sua maior parte - macrobiótica, yoga, acupunctura, homeopatia, chi kung, artes marciais - já foram em parte, descaradamente, recuperadas pelo sistema e tornaram-se matéria de marketing, da avassaladora ideologia do marketing, que tudo mina, contamina, polui, corrói, corrompe, canceriza. A partir do pêndulo (e com o Ensinamento do Grande Mago) todo o tecido pode ser tecido, na base da célula, na base da desconstrução e reconstrução da célula e das poderosas energias subtis que a informam. Na base da informação celular, a Boa Nova está aí: e de alguma coisa nos há-de servir a nós a Intuição, já que, em outras circunstâncias, é a Intuição, a Lucidez excessiva (quase clarividência) que tanto nos faz sofrer, vendo, através das aparências com que nos querem manipular, o fundo mais profundo da Abjecção, do Horror, do Terror moderno. Mas a intuição, se reforçada pela dialéctica (e tu viste bem o interesse da dialéctica Yin Yang), deve ver a abjecção mas também o seu antagonista complementar: a Esperança. Tudo isso é retomado, com o Pêndulo, pelo Grande Mago, que nos propõe uma releitura iluminada do universo (macro/microcosmos), e de outros fios doirados da Meada, da Tradição: o I Ching e seus 64 hexagramas, o «Bardo Thodol» (Livro dos mortos tibetano), o mistério das pirâmides, a alquimia, a bioquímica, a biologia quântica, a física quântica, a acupunctura, a homeopatia, a cosmogonia taoísta e todas as terapêuticas de base vibratória. Curiosamente, também a inflação tem minado esse projecto de esperança que são as medicinas de suporte vibratório, as medicinas doces em geral. A quantidade acabou por asfixiar a qualidade e é nessa fase que ainda nos encontramos. A proposta do Grande Mago é que façamos a triagem rápida, separemos o trigo do Joio, pondo a Intuição - nosso emblema e nossa arma - ao serviço dessa triagem. Quando em bioquímica se fala em informação celular, é outra ponta da meada que surge e vemos ela religar de um lado a informação no sentido da Entropia diabólica a que os «media» nos conduzem e do outro a informação no sentido da corrente energética que estrutura as forças mais subtis, que são também as mais poderosas. Não podemos perder este confronto final...Por isso o estudo em grupo de trabalho - nem que sejam só dois indivíduos - é de capital importância, o individualista e franco-atirador é susceptível de ser esmagado mais depressa. E talvez importe pouco que haja ainda poucos a tatear esta saída. Tu e eu já sabemos que temos de contar com o labéu de precursores, profetas, etc. Fundamental é que esses poucos remem no mesmo sentido. A meditação transcendental - a MT - pôs em voga uma utopia esclarecedora: e se todos - uns milhares - fizessem meditação ao mesmo tempo, já se viu que quantidade de energia vibratória se concentraria em um determinado momento da História? Acho que se terá de passar por essa utopia. A meditação transcendental, aliás, afigura-se uma versão moderna e adaptada à sociedade de consumo de uma corrente de fundo oceânico - o Ayurveda - que aguarda, na primeira fila de prioridades, a integração holística. O Carlos Carvalho é um adepto ferrenho do Ayurveda médico. A Homeopatia, desde a mais tradicional à mais moderna (a redescoberta de Christian Friedrich Samuel Hahnemann (1755-1843) ) é uma das medicinas de suporte vibratório que o Grande Mago cita na primeira linha de técnicas de ajuda. Seria quase premonitório que fosse a Homeopatia a mensageira do destino para te pôr no veículo certo em que o destino quer que viagens (mais depressa a mais seguro). Nesse caso, tu estarias maduro para começar a transmutação (a iniciação) e terias, como eu há mês e meio, batido no fundo do poço, começando agora a ser içado com um poderoso guindaste... Se tiveres curiosidade em saber as fases de convulsão e crise que me «empurraram» para o Grande Mago, já falei delas em algumas cartas, a outros amigos - o José Carlos Marques - e posso dar-te conhecimento, caso isso adiante alguma coisa à tua actual tomada de consciência. Se somarmos experiências, surge o fenómeno da Sinergia, palavra tão linda em que fala o Grande Mago e em que algumas terapêuticas holísticas - como a oligoterapia - também falam. A propósito de sinergia: oligoterapia e homeopatia falam de diáteses, no sentido em que a ciência europeia fala de biótipos humanos. Não sei se já te disse o Relâmpago que foi, para mim, há vinte anos, o livro de Isidoro Duarte Santos sobre «Biotipologia Humana», história das teorias que na Europa tentam perceber como e porque existem vários tipos humanos - temperamentos, caracteres - sete exactamente, como os corpos subtis do nosso corpo eléctrico ou como os centros endócrinos. Ou como os chacras. Sempre tive a intuição de que nos centros endócrinos se fazia a fronteira entre o físico e o subtil. Talvez por signo zodiacal, como já te fiz notar, sou (para o mal e para o bem) um ser de fronteira, um homem de Interfaces: nasci a 19 de Fevereiro, à hora-fronteira da meia-noite, na fronteira entre Peixe e Aquário, data que é dada como a do início do Ano Tibetano e o fim de outro... Chego, com estas coordenadas, a supor-me um predestinado ou, como costumo dizer, um peixe fora do aquário. A minha dispersão e a minha falta de memória intelectual (só na memória afectiva sou um crack!) são sintomas dessa predestinação, dessa vocação para as interfaces. Nunca consegui ser especialista em coisa nenhuma e sempre me interessei por toda a diversidade de culturas, vozes, seres humanos, classes sociais, raças, idiomas, etc.... Para meu mal de que faço mea culpa...
Lisboa, 3/5/1992
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TROCAS INTERMEMBRANARES:A IMPORTÂNCIA DO POTÁSSIO E DAS ENZIMAS

Lisboa, 5/5/1992 - Entre muitas outras coisas que esta crise me confirmou, saliento a básica importância que tem um dos princípios-chave da macrobiótica: o yin associado ao yang, sempre que possível. Quando se fala em equilíbrio, é essencialmente de polaridade que se fala. E quando se fala de polaridade é de jogo entre o interior da célula (potássio) e o exterior da célula (sais minerais em geral) que se fala. È do célebre PH que se fala. Mas na dúvida de que o PH esteja correcto, é preferível começar por um excesso de Potássio até que a remineralização correcta se comece a fazer. Mais: quando se inicia o regime macrobiótico como tratamento, é fundamental levar em conta que o estado seja mais yin que yang (que a célula esteja mais aberta do que fechada). Quer dizer: com um organismo ou alguns órgãos em forte estado yang, qualquer «medicação» (oligoelementos ou alimentar) não resultará. À luz do que se pode ler no livro de Étienne Guillé, «L'Alchimie de la Vie», a troca intermembranar entre o interior e o exterior da célula, é fundamental em qualquer processo de re-iniciação que toda a cura significa. Sem isso não há um primeira fase em que a célula expulsa toxinas ou matérias indesejáveis e uma segunda fase em que as poderá assimilar. Não há metabolismo ou há um metabolismo muito diminuído. A célebre dieta do arroz durante dez dias para desintoxicar, pode estar errada se o organismo se encontrar mais yang do que yin. E muito mais errada será, se for acompanhada de alimentos yang como ameixas umeboshi ou chá mu (era assim que se faziam as dietas de Arroz no início da prática macrobiótica em Portugal). E mais errado ainda se, durante essa dieta de cura, não houver uma forte presença de enzimas activando o metabolismo. Errado, erradíssimo. Seja qual for o estado, mais para o yin ou mais para o yang, a mineralização e remineralização só se poderá fazer com um terreno mais yin do que yang. Por isso os alimentos equilibrados em si mesmo -- mais do que o arroz temos agora o maravilhoso chá de vegetais doces -- os alimentos fortemente aromáticos, e portanto, intensamente polarizados como o Gengibre (yang-yin em contraste complementar no mesmo condimento), são presença indispensável em uma cura.
Relembro algumas coisas mais importantes que não se podem esquecer durante a cura macrobiótica:
- O truque da Sopa logo de manhã:
Chamo-lhe o «truque da sopa-de-pedra» porque é uma forma de incluir, na ração diária, aquelas pequenas grandes coisas que durante o dia não temos ocasião de juntar ao prato, a saber:
Gengibre ralado ( condimento fortemente polarizado em yin-yang)
Picles ou chucrute (enzimas para a digestão e assimilação)
Sultanas e passas ou quaisquer outros frutos secos, alimento este com bastante potássio e pouca água
Levedura de cerveja (fonte de vitaminas)
Germinado de soja (fonte de vitaminas)
Oleaginosas (fonte de lipovitaminas como a Vitamina E)
Miso Doce (fonte de enzimas sem o yang do sal do miso salgado)
A proporção deverá ser sensata: muitas coisas mas pouco de cada, até porque se trata, regra geral, de alimentos muito fortes
-- Queria alertar também para uma coisa que se esquece : o café de cereais (especialmente o café de cevada, que tanto se usava em casa da mãe) é muito yang, concorrendo portanto, para contrair o intestino;
A tisana de boldo, para limpar e descongestionar o fígado, é óptimo como te disse: mas há que ter cuidado, fazendo-o com pouca água, pois é levemente diurético e segundo te ouvi dizer, costumas tomar diuréticos para a tensão arterial: ora os diuréticos ( entre os alimentos, o alho francês, por exemplo, é bastante), expoliam o Potássio do organismo e há que estar alerta, especialmente se o intestino está preso: a falta de potássio ainda o vai prender mais.
Atenção, portanto, aos alimentos com potássio, lista que te enviei em fotocópia: pelo seguro, é melhor cair num certo exagero do que numa grande falta de Potássio e ir comendo aqueles que têm o potássio sem no entanto conter muita água (pêros muito grandes, por exemplo, têm potássio mas à custa de uma grande quantidade de agua, ou pêras, ou mesmo bananas, embora no teu caso uma banana de vez em quando não seja desaconselhável. Melhor banana do que, por exemplo, tomate, a menos que seja assado no Forno. Também a Batata tem grande quantidade de potássio, mas à custa igualmente de uma grande quantidade de Água: com a agravante, para intestinos presos, de não ter nenhuma Fibra e não ajudar nada aos movimentos do intestino. Em resumo: Procurar o Potássio, sim, mas em alimentos com pouca água e alguma ou muita Fibra.
Do pão, não esquecer que há cereais muito yang, ou seja, muito contractivos do intestino, como é o caso da cevada (já falada no caso do café), do centeio e mesmo de um trigo que às vezes aparece (há uma massa à venda) chamado trigo sarraceno, que é verdadeira cola para os intestinos.
Lisboa, 5/5/1992
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DATAS DA CRISE: 11/2/1992

Se quando fui à primeira sessão do julgamento do Vítor, já levava a dor no fundo do intestino, tenho estado a situar cronologicamente a crise em termos inexactos: essa sessão foi em 11/2/1992 , dias antes do meu aniversário, e o aniversário já o passei mergulhado no fundo do poço/buraco. Não esquecer, aliás, que, no calendário tibetano, é a entrada do Novo Ano e, portanto, a mudança de estação. Além disso, posso localizar muitas das minhas crises mmais fortes em cima dessa data. O que terá a ver com o meu mais forte e vulnerável dos Cinco elementos (a Terra), o tal onde os outros Elementos vão pedir socorro quando estão em aflições. Só que, desta vez, a própria Terra estava em pânico, e o ciclo completamente Fechado. O Acupunctor José Faro, já em Abril de 1992, acertou falando em Vazio do Rim: e o Vítor Cunha hoje, falando em oligoelemento Potássio, disse-me que o costuma receitar em casos de Vazio do Rim. Quando o José Faro me falou nestes termos, como iria eu pensar em défice de potássio (ou, o que vem a dar na mesma, índice de sódio já em cima do traço vermelho)?
A informação que eu recebia de todos eles era: uma desmineralização em grande. Mas desmineralização por uma mineralização excessiva... caso típico da ambiguidade ou ambivalência dos minerais, sempre retomando o problema da dose e do bíblico «quantum Satis», onde começa o terapêutico e onde acaba o tóxico.
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crise-12

A INTUIÇÃO DOS CONTRÁRIOS

Lisboa, 1/6/1992 - « Graças a Deus que não tive memória consciente. Isso me obrigou a recorrer ao reservatório da memória do inconsciente colectivo!»

Não vou dizer que é um estado de felicidade (continuo a acreditar que felicidade não existe), o desta minha segunda Vida, iniciada em (...). Não é nenhum termo das antinomias, mas o Terceiro termo de todas as antinomias: morte/vida, feliz/infeliz, alegria/tristeza, depressão/exaltação, etc. Se recobrei o que posso designar uma «certa alegria de viver» (coisa de que nunca me gabei em 68 anos de vida) a verdade é também que ganhei uma certa tranquilidade ao pensar na morte. É de facto um terceiro termo de síntese dos opostos, entre o amor (cego) à vida e o ódio cego à vida, entre o medo (cego) da morte e a atracção (cega) pela morte. Nem sim, nem sopas...final de contas, a ambiguidade que define os estados do terceiro Olho.

Já percebi (discerni, intuí) o que se passa sobre o CVD: se de facto é a panaceia de Choque que ameaça ser, compreende-se que todos os terapeutas fiquem em guarda e temerosos:e depois os doentes aos consultórios?... E depois os longos e especializados tratamentos? E depois o dinheirinho das consultas e dos muitos, variados, caros medicamentos? Assim, com o CVD, até o Afonso Cautela pode ser terapeuta... Convém não divulgar muito, convém mesmo fazer um certo segredo sem que se note muito...
Por outro lado, também é verdade que a extrema simplicidade do CVD, não convence ninguém. Nas pessoas a quem tenho falado, não notei grandes entusiasmos.. Mesmo quando se pode dizer que o CVD ajuda a curar cancros!
Tal como Einstein apontou para o acto de investigação científica - a realidade é inseparável do observador e deixa-se influir por ele - assim temos que a Intuição se vai transformando à medida que a alimentação é mais equilibrada; e a alimentação é mais equilibrada à medida que a intuição - Discernimento no dizer do Michio - se vai apurando e nos vai aconselhando na triagem dos alimentos. É um processo de Biofeedback! Não há que fugir a esta pescadinha de Ra(m)bo na boca ...

Ainda a intuição: Quase deslumbrado, constatei ontem, pelas quatro da manhã, que o Chá de vegetais doces se mantém quente, depois de sair do lume e mesmo em cima da pedra, um tempo quase infindável. Que fará dele este termostato vivo? Os sais minerais? Pelo contrário, aguenta muito mal fora do frigorífico: menos de vinte e quatro depois, conservado em vidro, já cheira ligeiramente a fénico. Oxidação?

A propósito de oxidação, ainda uma informação que recebi da intuição: a maravilhosa abóbora está a terminar a época e aguenta-se mal. Vai parar ao lixo com a maior facilidade, porque com a maior facilidade se estraga, cria bolor. Lembre-se que esta abóbora portuguesa é imensa, tem um enorme volume de água e torna-se muito vulnerável ao tempo. Penso então como a abóbora Hokaido (natural da ilha japonesa do mesmo nome) é essa pequena grande maravilha que de facto já sabemos que é. E acima de tudo, com a Hokaido(*), temos abóbora para todo o ano. E dificilmente se estraga. Fruto pequeno, recomenda a Macrobiótica e tem (mais uma vez) razão.
Porque não teve continuidade em Portugal essa maravilhosa abóbora de Cabaça? - continua a perguntar a minha indiscreta intuição! De facto, é triste, muito triste, que a Abóbora de Cabaça já só exista nos nossos livros infantis, ilustrando esse conto da nossa infância que era o conto da velha e da Cabaça. Dou dinheiro a quem me encontrar o conto e mais dinheiro ainda se ilustrado!
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(*) Pequena, densa, com os meridianos bem vincados, o sabor da abóbora Hokaido lembra o da Castanha. Usada especialmente em casos de diabetes ou se se precisar de combater o apetite anormal por açúcares. Pevides são vermífugas.
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morte - diario-crise-13

9/Novembro/1990, às sete horas da manhã - Não há nada melhor para ganhar (algum) amor a esta puta desta vida do que passar, a hastos largos. a plenos pulmões, pela antecâmara da morte. E eu acho que sim, que passei, agora sei o que são mais de 24 horas, embora menos do que 48, com os miolos a saltar de dores indescritíveis, sem ter conta de mim, do meu corpo ou de qualquer parcela dele. Ser todo da Dor, é as núpcias que bem pode(m) ser conotadas com a sensação da morte. Junta-se a náusea profunda, a sensação de que todas as vísceras vão despejar, mas não despejam. É preciso manter a compostura, mesmo quando se está sozinho em casa, diante de Deus, dentro de nós próprios, na mais absoluta singularidade, na mais apertada solidão.
E não há nada a descrever. Hoje, passada aquela pequena eternidade chamada dor física, passada a sensação de ter o crânio a desfazer-se, a pequena enxaqueca passa à categoria de passatempo banal.
É o que gostaria de fazer: pensar. Se me perguntassem o que gosto verdadeiramente de fazer, a resposta só pode ser uma: pensar.
Agora que estive, mais do que 24 horas e menos de 48, impedido de o fazer, com a dor de cabeça mais monumental que a mais viva imaginação de carrasco poderia idealizar, agora que «pensar» é o que peço durante as 24 horas do dia, ininterruptamente. Curiosamente, e não sei por que favor do destino, por que favor da fisiologia, aquelas mais do que 24 horas e menos do que 48, foram atravessadas por breves períodos de sono, que por si mesmo, desligando os mecanismos da dor, funcionavam de anestésicos. Mas sob anestesia não se pensa. Julguei que iria ficar, para toda a vida, com a cabeça feita em migas. Acreditei que entrara numa rampa descendente de desidratação. Se acontece às crianças do 3º mundo, porque não me havia de acontecer a mim, velho do Quarto Mundo? A verdade é que estive num precipício de desidratação: tem a ver fundamentalmente com o fígado, tem a ver com os mecanismos fisiológicos que presidem à expulsão da água do organismo. Cada gota de líquido que bebia, minutos depois a debitava exactamente. Não retinha um milímetro. É a «desidratação», pensava eu (pensava?), já que esta crise foi desencadeada com um golpe de sol, o que é factor comum às desidratações das crianças do Terceiro Mundo.
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Vou contar uma crise de colite só identificada como tal depois de muita cabeçada e de muitas tentativas ( de diagnóstico) frustradas

Ensaios de Karma Yoga
I
Lisboa, 2 de Março de 1992, segunda-feira - Se foi golpe de sol ou de vento, vá lá o diabo sabê-lo. Mas desta vez é mais provável que tivesse sido de vento, pois no dia anterior à dor de garganta, apanhei com duas janelas abertas no comboio, sítio onde mesmo no pino do frio vai alguém com certeza muito encalorado. Enfim, é a luta de classes em matéria de diferenças térmicas. No dia seguinte, acordei com a garganta sensível e a correspondente indisposição. Mas era sexta feira e o acaso dera-me de bandeja a hipótese de ir ao Parque transportar as madeiras e os tijolos de que tinha necessidade para deixar mais uma tarefa cumprida, antes da «grande viagem». Caiu do céu esta boleia do Nelson Quelhas, que testava um carro «pickup» na revista «Motor», e aproveitei. Nessa mesma tarde de sexta feira dei volta ao pequeno mundo da rulote e só à noite a dor de garganta me lembrou outra vez que existia. No sábado, o acordar foi normal e parecia já esquecida a dor de garganta. Só comi depois das três horas da tarde -- muito tempo sem apetite anuncia fígado a sofrer -- e cerca das seis, surge a célebre nevralgia quente e quase febril na fronte esquerda. É verdade que andei todo o dia a olear com um óleo de milho já rançoso tudo o que era vulnerável na rulote à ferrugem. E quando a dor na fronte esquerda aumentou, tentei obviar com uma fricção de óleo essencial de alecrim. Acho que precipitei a crise: a partir daí a dor na fronte subiu de ponto e só por milagre conciliei o sono a espaços. Os intestinos já não tinham funcionado na sexta e muito menos funcionaram nesse sábado. Em compensação, a diurese aumentou, ainda que tivesse anexado uma boa causa para isso: na tarde de sábado, bebi uma cerveja da Trigrama, em qualquer caso uma dose para mim excessiva. Atribuí também os intestinos presos a ter comido bastantes maçãs reinetas, de efeito em mim sempre bastante adstringente. Quero lembrar que na tarde em que surgiu a dor esquerda da cabeça, saí fora da rulote, onde fizera um efeito estufa intenso com o termoventilador e dei pelo contraste, pois o espaço coberto fora da rulote acusava já um gelo de geada da noite que se avizinhava. Uma coisa é certa: houve uma «mudança brusca de temperatura» e em mim esse fenómeno tem efeitos quase tão violentos como o «golpe de sol». Acho que foi mais um factor a juntar à soma. Domingo resolvi, com receio da chuva, regressar a Paço de Arcos, e depois de ter passado a efeito do guaraná + chá verde matinal, a tarde foi outra vez de peso e angústia e mal estar. De manhã, depois do Guaraná, o catarro não deixou de ser expelido e estava bem à vontade, sozinho na rulote, para isso. Também hoje, já segunda feira, em que a nevralgia da fronte esquerda começa a diluir-se, expulsei catarros em abundância. [Ah! é verdade, os intestinos esvaziaram e foi, como sempre acontece, uma sensação de aleluia. Quando o intestino funciona, parece que a dor de cabeça tende a extinguir-se. De ontem para hoje, também o intestino doeu, o que atribuo às fezes mais duras, exactamente porque mais alcalinas com a maçã reineta.] Como sempre, um muco esbranquiçado. Ontem, comi duas refeições depois de chegar a casa, um canelone do Nelson, uma fatia de tofu e uma segunda fatia de tofu, já noite, com uma chamuça. Intestinos continuaram no sábado sem funcionar mas nem por isso deixei de comer duas a três maçãs reinetas, que me aparecem alcalinizantes nesta emergência. Só ajudei ontem com um oligoelemento de enxofre e esta manhã com um oligoelemento de magnésio. Desisti do cobre ontem à noite, não fosse dar-me espertina, o que seria contraditório com a necessidade de conciliar o sono, o mais possível, de forma a esquecer a «dor», que não é para brincadeira, acompanhada sempre da sensação de náusea. Este texto é aberto e logo que me for lembrando de outras ocorrências, acrescentarei, pois ainda não sei como verdadeiramente se desenvolve em mim uma crise catarral. Mas é de tal modo violenta, que de facto só me admira não produzir febre. Ontem, domingo, logo a seguir ao Guaraná da manhã, foi uma salva de espirros, com escorrência de água. Aliás, enquanto andei nas arrumações, o pingo não deixou de cair. Quando entrei na rulote, experimentei um novo candeeiro que a certa altura me pareceu exalar com o calor um cheiro químico. Desliguei, mas fiquei com a ideia de que o cheiro pudesse ter provocado a dor de cabeça terrível dessa noite. Que outra coisa podia ser? O pudim de cebola e nata que levei da Sociedade Portuguesa de Naturologia, atendendo a que ainda sou hipersensível à nata. Mas duas doses de pudim dariam para desencadear crise tão forte?
II
Lisboa, 19/Março/1992, Quinta-feira - Assim como é difícil descobrir o factor desencadeante de uma crise, entre vários que se apresentam prováveis, é ainda mais difícil descobrir o factor que decisivamente terá contribuído para uma melhoria dessa mesma crise, após várias tentativas consecutivas um tanto no escuro e um tanto e tactear. Um tanto às cabeçadas. De facto, de há um mês para cá, com a dor persistente no fundo do intestino, onde o cólon passa ao recto, creio eu, depois de uma moinha que só acidentalmente se torna dor e dor relativamente (in)suportável, depois de ter traçado um quadro onde via hemorróides, causadas pela crise de fezes ácidas, depois de entrar mesmo à beira do desespero, marcando consecutivamente consulta no Dr. Carlos Carvalho, no Dr. Pires da Silva e no Dr. José Faro, a ver qual deles me socorre primeiro, depois de tentar quase tudo na linha da «alcalinização» das fezes, pondo leguminosas de parte e colocando toda a ênfase nos alimentos alcalinizantes, depois de tentar a Maçã Reineta, o Arroz Integral, a Ameixa Umeboshi sob três formas - concentrado, salgada e pasta de Umeboshi - depois de percorrer a via sacra de alguns «medicamentos» ad hoc -- pomada natural para hemorróides, por exemplo, tisana contra hemorróides --, depois de suprimir inclusive suportes essenciais do meu quotidiano -- o Guaraná de manhã e respectivo Chá Verde - por suspeita de muito yin e de muito acidificantes, dada a quantidade de que tenho abusado, depois de nem sequer me lembrar que havia medicamentos de farmácia, eis que ontem, saio para a rua, abatido por todos os motivos e principalmente porque a dor no terminal do intestino não retrocedia, e dirijo-me, quase mecanicamente, para o mano Zé, que fui encontrar no fim do seu almoço no Snack onde ele costuma ir comer o seu peixinho cozido. Tinha de o encontrar e encontrei-o. Fiz-lhe as minhas queixas, disse-lhe da minha aflição, e logo justo agora que me chamavam de Cabo Verde e eu tinha que me sentir de saúde em forma. «Nesse sítio que te doi -- diz-me ele - é o Períneo, e olha que a Próstata pode doer aí nessa zona». «Não me lixes -- repliquei eu -- com o intestino já tenho ávondo, não me arranjes agora receios de próstata. E olha que tenho conseguido afastar o receio de cancro no intestino». Continuámos falando, eu insistindo nas hemorroides de tipo particular que me costumam atacar. Aquilo a que eu, à falta de melhor informação, chamo hemorroides internas. Até que, já de saída, ele diz-me que costuma utilizar um medicamento de farmácia - o Debridat 200 - quando se sente pior da Colite. E aqui é que eu desperto: afinal Colite é o que eu tenho e sempre tive, foi do que eu sempre sofri, porque raio não desviei logo a questão para este problema central: é da Colite e há-de ser sempre da Colite que eu principalmente me queixo. Coisa velha, a Colite tem que ver, evidentemente, com os outros sintomas: com o Fígado e a secreção da bílis (mais ou menos ácida); com as descargas ácidas pelo recto abaixo; enfim, está tudo relacionado mas, no caso concreto da dor persistente, é mesmo a Colite o que está em cheque, a Inflamação do Cólon. ( Como não me lembrei do Oligoelemento -- o Cobre/Ouro/Prata -- que deve estar presente sempre que a palavra termina em «ite», Sinusite, Rinite, Peritonite, Gastrite, etc?). Ainda na linha da (suspeita de) espasmofilia, para a qual me alertou o Carlos Carvalho e para a qual me receitou umas drageias -- Petadolor - que por si só não me adiantaram grande coisa, resolvi medicar-me na base do Magnésio, não apenas o oligoelemento que vinha a tomar incidentalmente, em doses ínfimas e catalíticas, mas agora em ampolas para duas tomas diárias. Neste momento levo três ampolas tomadas e foi esta manhã que o intestino funcionou com maior normalidade do que nas últimas semanas. As fezes vieram deslizando com facilidade e suavidade e com textura mais fechada, mais uniforme do que nas últimas semanas. Agradeci a Deus essas fezes de esperança. Mas também ontem já tomei um dos comprimidos que o mano Zé me deu - o Debridat 200 - e só não fui para a dose-dupla-de-cada-vez que ele diz utilizar: tenho uma grande sensibilidade a medicamentos e vou sempre, por medo, para doses mais reduzidas do que as indicadas. Quer dizer: acredito que estou, finalmente, após várias semanas sem qualquer alteração sensível -- nem para pior nem para melhor -- a melhorar. Está cá a dor mas de outra maneira. Dói de outra maneira e num quadro de sensibilidade orgânica diferente. Dá uma pequena margem à esperança. Portanto só tenho que louvar, por ordem de gratidão, o medicamento de farmácia Debridat, o Magnésio em ampolas ponderais e, também, o Crómio da «Golden Life» que recomecei ontem a tomar, bem como os antecedentes que prepararam bom terreno orgânico ao «medicamento específico»: o concentrado de ameixa umeboshi que venho, prudentemente, tomando em doses diminutas. Mas se Deus me ajudar à convalescença, acho que o centro do problema, nesta crise concreta, foi mesmo o cólon e a forma como o cólon ficou, mais do que irritado ou espasmódico (embora também) inflamado. É disso que se trata. E o leite de soja foi com certeza o maior responsável (mais do que abuso de oleaginosas ou mesmo da Vitamina E, embora também), o factor que mais contribuiu para fazer saltar essa crise de colite.
Lembro que, em todo este intervalo de dúvidas, não suprimi mas tentei diminuir o Pão, tendo ficado com uma maior desconfiança em relação ao de milho, que relativamente ao de trigo considerava menos acidificante. Tenho dúvidas por esclarecer. Mas também o integral muito integral não é nada conveniente, embora não o tivesse totalmente suprimido durante esta crise. Relaciono também muitas vezes o pão de trigo integral -- e o famoso Ácido Fítico -- com a minha acentuada tendência para descalcificar. É claro que o Tofu - ao contrário do Leite de Soja - andou sempre como a proteína de recurso e de máxima confiança, durante as aflições desta crise, em que cheguei a recear todos os alimentos. O sumo de Laranja pela manhã em jejum, até esse suprimi por supô-lo demasiado yin e naturalmente com razão. Embora não tenha a certeza de que a laranja, enquanto citrino doce, tenha reacção ácida ou alcalina. Mas a questão, para lá do Yin e do Ácido, não devo esquecer que era principalmente a inflamação do cólon e foi essa que relutou em desaparecer ou em atenuar ao longo destas dolorosas semanas. Curioso que também as unhas (polegar, principalmente) acusam fortes brancos de há dois ou três meses; aí, a desconfiança de Descalcificação, vai para a garrafa Brita que durante dois meses me serviu para filtrar a água da torneira: durante dois meses, de facto, não comprei águas de garrafão. A desconfiança de Descalcificação surgiu-me associada a uma carência ocasional de Magnésio, na qual podia radicar a espasmofilia que me causaria as Dores: a dúvida que me fica, de ontem para hoje, é que se teria obtido melhoras sem o Debridat e só com o magnésio, ou vice-versa. Um dos dois foi, ou os dois em complemento. Acho que sou mesmo um homem de Karma Yoga: tudo isto tinha que suceder à beira de uma tão grande aventura como é a ida para Cabo Verde. De facto, esta panóplia de recursos alimentares e medicamentosos que fui descobrir (e comprar, alguns bastante para o Caro) fazem parte daquela Farmácia de Emergência que tem de andar sempre comigo, o breviário dos breviários para a minha sobrevivência. E mínima capacidade de trabalho. Neste aspecto, o Karma Yoga funciona como técnica de sobrevivência. E não sei se a máscara africana, ali ao lado, acusada de ter feitiço negro, não está usando o seu feitiço para me empurrar a caminho da sua África, da África de que ela é um sinal.
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