PÊNDULO 97
ee-II> cartas a ninguém
TRABALHAR COM O PÊNDULO - EXERCÍCIOS DE EMERGÊNCIA
16/12/1997 - Se perguntasse pelo interlocutor desta carta, não saberia dizer quem é. Melhor do que escrever a mim próprio - por ausência de interlocutor válido - é escrever a ninguém, na ausência de mim próprio. É um bom sinal do estado a que esta merda chegou. Estado (conjuntura) significativo do esgoto em que me encontro neste momento. E porque não havia de me encontrar? Se toda a vida lá estive! no esgoto, porque havia de não estar e continuar aos 60 anos? Só porque entretanto surgiu a Radiestesia, talvez não seja assim um tão grande motivo para me considerar fora do Esgoto, salvo do esgoto, a respirar o oxigénio. Vistas bem as coisas, a Radiestesia foi mais uma ampliação do Nada e uma máscara de auto-ilusão do que um facto adquirido. Mas que significado tem a diferença entre isto e coisa nenhuma? Se a autoilusão se mantivesse, tudo bem. Só que acabou. Reentrei na tal relampejante lucidez. Até ficar encandeado. A verdade é que todo o entusiasmo é falso e toda a esperança ilusão. Como sempre soube, a lucidez é sempre depressiva e as «melhoras» terapêuticas contra a Depressão não passam de auto-ilusões que se não confessam como tal.( Não soube eu sempre como era repugnante o adjectivo «melhor», «bom»?) Autoilusões que apenas mascaram o horror: ou antes, o vazio, o tédio, o vazio do tédio, o tédio do vazio. Horror seria se houvesse dramatismo nesta vulgaridade da chateza total e não há. Quando se cai no lúcido, a única solução é mesmo o suicídio. Não é solução mas uma forma de pôr fim (?) a uma interminável chatice. Sempre. Um desvio de alguns meses não chegou para alterar a Rota. E só a vontade de conquistar a esperança explica que tenha vivido uma fase de autoilusória e autoiludida esperança. O Pêndulo serviu de pretexto. Os buracos deste esgoto continuam iguais: por exemplo, a comunicação continua impossível. Mesmo os terapeutas de uma Nova Informação (a vibratória) fecham-se em copas e servem-se dos mesmos, eternos alibis. Andam demasiado ocupados a curar pessoas para me ouvirem ou me aconselharem. E mudei eu do avesso! Valeu de facto a pena. Um palavrão, é tudo o que vale esta bela experiência. Estou fodido e chatiado como no primeiro momento. Quer dizer: desde que nasci. Quer dizer: antes de nascer já estava chatiado e chatiado continuo. Só me apetece escanecar quem me passa pela frente. Só me falta arranjar a coragem para assumir as consequências. O vulcão volta a ser tão explosivo como sempre foi, neste maldito jornal, neste cabrão deste maldito jornal. Prorrogam a solução do meu caso, eternizam o impasse, fazem invariavelmente ouvidos de mercador, pelo que só me fica a eterna solução: matar e matar-me. Aqui estou tentando, com as forças que me restam, evitar o referido desfecho. Aos 60 anos, consumo o total das minhas energias diárias a reprimir a vontade irreprimível de matar e ser morto. Nunca esta merda teve um sentido. Nunca esta merda terá um sentido. Não me admira que um dia destes o pêndulo me pare nos dedos, tal o estado infeliz em que estou redondamente a recair. Nenhuns progressos. Mas que sentido tem a palavra «progresso»? Não nos dizem os seminaristas que é tudo igual ao litro e que tudo é absolutamente relativo? Quantas vezes já ouvi repetir-se este lugar-comum? Porque o repito pela cagagésíma vez? Estou a ficar mais pílulas do que antes. Adeus, Radiestesia: foste uma bela ilusão, tal como o budismo tibetano o foi. Mas a vontade (e a covardia) de me suicidar, está cá imperecível, invulnerável. Sempre. Com eles todos muito convencidos que estão muito distraídos, como não se cansava de repetir o suicida João Carlos Passos Valente. A redução do lixo doméstico vai, curiosamente, reforçar o espaço de vazio que intensifica a depressão. À medida que vou reduzindo os livros que me afogavam, é maior o vazio que me vai rodeando. Caminho aceleradamente no Vazio. Que chatice, que imensa chatice!
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TRABALHAR COM O PÊNDULO - EXERCÍCIOS DE EMERGÊNCIA
16/12/1997 - Se perguntasse pelo interlocutor desta carta, não saberia dizer quem é. Melhor do que escrever a mim próprio - por ausência de interlocutor válido - é escrever a ninguém, na ausência de mim próprio. É um bom sinal do estado a que esta merda chegou. Estado (conjuntura) significativo do esgoto em que me encontro neste momento. E porque não havia de me encontrar? Se toda a vida lá estive! no esgoto, porque havia de não estar e continuar aos 60 anos? Só porque entretanto surgiu a Radiestesia, talvez não seja assim um tão grande motivo para me considerar fora do Esgoto, salvo do esgoto, a respirar o oxigénio. Vistas bem as coisas, a Radiestesia foi mais uma ampliação do Nada e uma máscara de auto-ilusão do que um facto adquirido. Mas que significado tem a diferença entre isto e coisa nenhuma? Se a autoilusão se mantivesse, tudo bem. Só que acabou. Reentrei na tal relampejante lucidez. Até ficar encandeado. A verdade é que todo o entusiasmo é falso e toda a esperança ilusão. Como sempre soube, a lucidez é sempre depressiva e as «melhoras» terapêuticas contra a Depressão não passam de auto-ilusões que se não confessam como tal.( Não soube eu sempre como era repugnante o adjectivo «melhor», «bom»?) Autoilusões que apenas mascaram o horror: ou antes, o vazio, o tédio, o vazio do tédio, o tédio do vazio. Horror seria se houvesse dramatismo nesta vulgaridade da chateza total e não há. Quando se cai no lúcido, a única solução é mesmo o suicídio. Não é solução mas uma forma de pôr fim (?) a uma interminável chatice. Sempre. Um desvio de alguns meses não chegou para alterar a Rota. E só a vontade de conquistar a esperança explica que tenha vivido uma fase de autoilusória e autoiludida esperança. O Pêndulo serviu de pretexto. Os buracos deste esgoto continuam iguais: por exemplo, a comunicação continua impossível. Mesmo os terapeutas de uma Nova Informação (a vibratória) fecham-se em copas e servem-se dos mesmos, eternos alibis. Andam demasiado ocupados a curar pessoas para me ouvirem ou me aconselharem. E mudei eu do avesso! Valeu de facto a pena. Um palavrão, é tudo o que vale esta bela experiência. Estou fodido e chatiado como no primeiro momento. Quer dizer: desde que nasci. Quer dizer: antes de nascer já estava chatiado e chatiado continuo. Só me apetece escanecar quem me passa pela frente. Só me falta arranjar a coragem para assumir as consequências. O vulcão volta a ser tão explosivo como sempre foi, neste maldito jornal, neste cabrão deste maldito jornal. Prorrogam a solução do meu caso, eternizam o impasse, fazem invariavelmente ouvidos de mercador, pelo que só me fica a eterna solução: matar e matar-me. Aqui estou tentando, com as forças que me restam, evitar o referido desfecho. Aos 60 anos, consumo o total das minhas energias diárias a reprimir a vontade irreprimível de matar e ser morto. Nunca esta merda teve um sentido. Nunca esta merda terá um sentido. Não me admira que um dia destes o pêndulo me pare nos dedos, tal o estado infeliz em que estou redondamente a recair. Nenhuns progressos. Mas que sentido tem a palavra «progresso»? Não nos dizem os seminaristas que é tudo igual ao litro e que tudo é absolutamente relativo? Quantas vezes já ouvi repetir-se este lugar-comum? Porque o repito pela cagagésíma vez? Estou a ficar mais pílulas do que antes. Adeus, Radiestesia: foste uma bela ilusão, tal como o budismo tibetano o foi. Mas a vontade (e a covardia) de me suicidar, está cá imperecível, invulnerável. Sempre. Com eles todos muito convencidos que estão muito distraídos, como não se cansava de repetir o suicida João Carlos Passos Valente. A redução do lixo doméstico vai, curiosamente, reforçar o espaço de vazio que intensifica a depressão. À medida que vou reduzindo os livros que me afogavam, é maior o vazio que me vai rodeando. Caminho aceleradamente no Vazio. Que chatice, que imensa chatice!
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